segunda-feira, 5 de julho de 2010

Nicolau faz 50 anos: c'est drôlement chouette!

Sei que sou nova para usar a palavra ‘nostalgia’. Mas não existe palavra melhor para descrever a emoção que foi assistir ao longa O Pequeno Nicolau. Baseado em uma das principais séries francesas de livros infanto-juvenis que completou 50 anos em 2009, o resultado é simplesmente encantador do começo ao fim – desde a animação com as ilustrações inconfundíveis de Jean-Jacques Sempé, até a clássica foto de turma, da história que abre o primeiro livro.

Como os livros são organizados em pequenas histórias, havia a dúvida de como amarrá-las em um filme. A solução bolada pelos roteiristas foi uma trama principal, mas com alguns episódios de histórias que se entrelaçam: quem leu os livros vai reconhecer diversas histórias ao longo do filme, como o exame médico e a entrega dos boletins. A narrativa dominante fala sobre o desespero em que Nicolau (Maxime Godart, em perfeita sincronia com a narrativa) se encontra: ele leva uma vida feliz como filho único, quando um de seus amigos surge com a notícia de que agora ele tem um irmão mais novo. Ao ouvir uma conversa dos pais, Nicolau tem certeza de que o mesmo está acontecendo com ele, e que um desagradável irmãozinho está a caminho para disputar a atenção dos seus pais. Mais do que apenas o desejo de continuar reinando o lar como sempre fez, essa negação do caçula representa também a sua vontade de continuar sendo criança, sem se tornar mais velho – idéia reforçada quando ele diz que não sabe o que quer ser quando crescer porque é feliz com a sua vida do jeito que está.

O filme, lançado na França em 2009, estreou por aqui esse mês, e segue a mesma linha tomada pelo escritor René Goscinny (criador do personagem Astérix, também homenageado no roteiro) de narrar a história sob o ponto de vista de uma criança – o que poderia soar artificial, mas aqui funciona perfeitamente, porque, paralelamente, existe a narrativa dos “adultos”: vê-se a discussão dos pais, a insatisfação do pai em relação ao trabalho, a professora que não quer passar vergonha na frente do ministro. O diretor Laurent Tirard (de As Aventuras de Molière) capta bem o ponto de vista infantil explorado por Goscinny, o que faz com que o filme agrade tanto adultos quanto o público infantil – as cópias dubladas foram outro acerto da distribuidora Imovision, responsável pela adaptação dos nomes dos personagens para o português.

O Pequeno Nicolau é um grande clichê. A própria época que ele retrata (os anos 50) é uma das causas disso. Mas não digo aqui um clichê com a conotação negativa que costumamos dar à expressão – muito pelo contrário. Os personagens caricaturados (com destaque especial para o elenco infantil encantador), a imagem de família perfeita, os cenários muito bem montados, tudo ajuda na construção de uma atmosfera agradável, familiar, até. E é por isso que quem leu os livros vai sentir um carinho especial pelo longa. O Nicolau daqui é o mesmo Nicolau de Goscinny, com o mesmo ar curioso, observador, sem perder nunca a inocência. Afinal, não existe símbolo melhor para a inocência do que a infância e as interpretações de uma criança acerca do mundo, independentemente da sua opinião a respeito dessa áurea de perfeição e delicadeza que é criada sobre a infância. Se isso resultar em clichê, que seja. O intuito aqui é, claramente, mais uma homenagem do que uma tentativa de sensibilizar as pessoas.

O diretor Laurent Tirard pretende filmar também Astérix, em breve. Esperemos que essa versão faça jus a Goscinny, ao contrário do que se tem feito até agora com o personagem gaulês.

Por isso, talvez ele não faça tanto sentido para aqueles que nem sequer tinham ouvido falar desse tal de Nicolau. A história se trata do amadurecimento em uma fase da vida que nos é muito cara de uma forma divertida, e esse efeito é alcançado porque nos identificamos com certas situações. Mas essa identificação perde metade da graça e significa muito menos se não estamos familiarizados com a história.

Portanto, é bem provável que o filme não cause tanto impacto aqui quanto na França, onde foi a maior bilheteria nacional em 2009. Todo francês leu O Pequeno Nicolau em algum momento da sua infância, fazendo com que o filme tenha esse ar nostálgico, de uma época passada que foi perdida. Fica a dúvida se esse tipo de narrativa tem apelo para o público brasileiro, ou se ela se torna simplesmente uma “historinha bonitinha”. De uma forma ou de outra, vale a pena assistir pelos noventa minutos de inocência, refúgio que muitas vezes nos faz falta.

3 comentários:

  1. Se você pudesse me ajudar ficaria grata, pois estou louca para assistir a esse filme só que na minha cidade (fortaleza) ainda não estreou. o filme irá passar aqui ou não? desde já obrigada!

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  2. assisti o filme e ameiiiiii! melhor filme que assisti na minha vida! em relação a se o filme vai passar em fortaleza acho que passará sim, pois filmes como esse devem ser passados em todo o brasil. mas de qualquer forma procure se informar nos cinemas da sua cidade. porém como eu disse antes acho que passará sim em todas as capitais, ou quase em todas. beijos....

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  3. de acordo com a veja fortaleza, o filme está em cartaz no espaço unibanco dragão do mar.
    espero que tenha ajudado!

    http://vejabrasil.abril.com.br/fortaleza/filmes/o-pequeno-nicolau-14106

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