Não é só de menininhas ficando com menininhos que vivem os filmes com finais óbvios. Uns vão na linha “banda que precisa fazer show”, e às vezes “encontre o seu ídolo”. Outros são os dois ao mesmo tempo. Normalmente esses filmes são bem divertidos, afinal, das duas uma: ou você se identifica, ou olha com um desprezo meio curioso para aquelas pessoas que dormem em filas, saem correndo em debandada, choram, se descabelam, assim por diante; a trilha também costuma ser boa. Rock 'n' Roll High School é um. Como o nome sugere, é sobre uma adolescente em um colégio chato correndo atrás dos Ramones, num clima de non sense delicioso. O filme é ótimo, mas não foi um Ramone que tocou pra 64 mil pessoas no Morumbi exatamente uma semana atrás.
Como o pôster de lançamento é meio traumático, isso acima é um screencap de I Wanna Hold Your Hand de 1978, aqui Febre de Juventude, estréia de Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro, Forrest Gump). O filme aborda a histórica apresentação dos Beatles no Ed Sullivan Show, em Fevereiro de 1964, do ponto de vista de um grupo de adolescentes que vai de New Jersey pra NYC - sem ingressos -, cada um com seu motivo. Uma aspirante a jornalista quer tirar fotos, outra quer loucamente ver o Paul, outra fã de folk quer protestar e por aí vai.
Não deve ser esperada grande coisa desse filme, ele foi feito para ser leve, engraçado. O que acaba sendo comentado, como a polêmica dos meninos de cabelo “comprido” (três anos depois eles iam ver só), é feito também nesse clima leve, quase sutil. Nada sutil mesmo é a beatlemania; gritinhos histéricos, correria e loucura aos montes; por isso há quem se irrite com ele. E quando você toma o fenômeno da beatlemania como personagem principal, o filme fica mais interessante.
Dois dias antes do show do Paul aqui em SP, Lou Reed fez uma sessão de autógrafos em uma livraria, para 250 pessoas contadas que estavam lá há pelo menos três horas, enfileiradas de pé e abraçadas nos seus LPs do Velvet. Ao lado, outras se reuniam para ver o filme novo do Harry Potter, usando casacos pesados e cachecóis num calor de 28 °C. Enquanto, é claro, pessoas também faziam fila no estádio do Morumbi. Enfim, fanatismo.
Poderiam ter escolhido qualquer outra música para o título, que combinaria: tantas juras de amor eterno em músicas dos Beatles. Mas “I wanna hold your hand” é diferente. Ela é uma das maiores representações do amor pueril, inocente; o gesto mais besta vale a pena. Exatamente o mesmo amor dos fãs: esperar horas, gastar rios de dinheiro, fazer papel de bobo, só para poder ficar uns minutos perto, agradecer ou mostrar que é importante pra você – por mais piegas que isso possa soar.
É evidente que mesmo o gesto isolado parecendo inocente, o todo tem lá seus dissabores. Como queimar seu filme, incomodar seu objeto de adoração e se decepcionar com ele. Todos minúsculos e nulos, perto do que aconteceu com John Lennon: símbolo desse amor exagerado e vítima da sua fama e do fascínio que gerava. (Aliás, seu aniversário de morte já é semana que vem.) Mostrando assim que os Beatles são únicos não só pela música, mas pela influência no comportamento de tantos, chegando aos extremos.
A beatlemania é vergonha alheia completa. I Wanna Hold Your Hand não tenta dourar a pílula; o ridículo da coisa toda é bem enfatizado em todos os momentos. Porém, é sim justificado. Tenho certeza de que muitos dos estavam gritando por Paul McCartney semana passada gostariam de ter estado lá com o bando de histéricas dos anos 60, acompanhando os lançamentos e correndo, chorando, vendo de perto e tudo mais. Porque se mesmo o restinho que sobrou – assistir a um show 40 anos depois de a banda acabar - emociona tanto, imagine só the real thing.
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