“Se tudo isso incomodar vocês, ainda bem, porque a intenção é essa” - Andrea, único personagem masculino da peça
Essa não é, mas bem que poderia ser, a fala inicial do espetáculo Hell, em cartaz no Teatro Sesi. A peça estrelada por Bárbara Paz e Ricardo Tozzi é homônima ao livro lançado em 2003 na França, sobre os jovens da elite parisiense e seus abusos de consumo, drogas e luxúria. E são exatamente esses excessos que incomodam o expectador. A trama é curta e ocorre toda nos mais requisitados pontos de Paris com um ritmo desenfreado através de uma narração em 1ª pessoa. Sua adaptação para os palcos foi na forma de um (quase) monólogo, sem mudanças de cenário e com duração de 75 minutos. A trilha sonora e a iluminação complementam o andamento não linear.
A adaptação é fiel ao romance, muitas das falas são transcritas do texto original, e um elemento fundamental que foi transposto com sucesso é a ironia. Lolita Pille, a autora, possui um senso de humor fino, porém sarcástico que interpretou na última novela das oito, Viver a Vida foi a alcoólatra Renata, conseguiu captar e associar ao óbvio drama também contido na personagem. Aliás, somada ao preço e à localização (detalhados no final), a escolha da atriz da protagonista foi um fator responsável pela popularização da peça. Em plena quinta-feira, a platéia estava lotada e pelo que se percebia - e não foi comentado pelos grandes meios de comunicação por se tratarem de sessões distintas - o público ali presente não estava acostumado com esse tipo de espetáculo.
Palmas em excesso, celulares tocando e assobios; hábitos não comuns ao teatro eram perceptíveis e a realidade totalmente estranha retratada causava ora sensação de inveja, ora de pena. Uma das próprias falas de Hell é “Tenho nojo de mim”. Mas apesar de todo o contexto em que é inserida a peça, trata-se de uma história de amor, ou melhor, da incapacidade de amar. O que se percebe é que o status social das personagens não repele as fragilidades humanas, acentua-as.
Hell é uma garota de 26 anos, dotada de lucidez para decodificar o seu mundo mediocre. Andrea, seu amor, já o decodificicou e é daí que surge a atração de ambos. Destaque para a associação com a ópera La Traviata e ao intercalamento de cenas com um figurino simples e adequado. Outro fator que colabora para o boca-boca - mas para outros nichos - é o diretor. Hector Babenco, argentino, responsável por excelentes filmes nacionais, comanda em um tema que apesar de não ser familiar, tem a mesma temática dos seus maiores filmes, Pixote e Carandiru: a desigualdade social.
Exibido em uma época onde a Era Gucci é tida como morta e onde os maiores bilionários do mundo doam metade de suas fortunas, coloca em dúvida uma das melhores falas do livro: “Minha espécie irá perdurar”. Diferentemente do filme, trata-se além disso, de uma reflexão individual sobre a vida e de seu significado. Intenso e sem lição de moral, prende a atenção do leitor, seja pela quase nudez - tornando-a recomendada para maiores de 16 anos - e estética ou pelo conteúdo contestador que muitas vezes perde evidência no cotidiano.
Temporada até 19/12/2010
Às 20h, Teatro do SESI – São Paulo (Av. Paulista, 1313 – Metrô Trianon-Masp).
Quintas e sextas: entrada franca.
Sábados e domingos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Nos dias gratuitos, a distribuição dos ingressos tem início a partir da abertura da bilheteria no mesmo dia do evento.
Horário de funcionamento da bilheteria: de quarta-feira a sábado, das 12h às 20h30; domingo, das 11h às 19h30.
Informações: (11) 3146-7405
Livro Hell - Paris 75016
Preço sugerido: R$34,00
Editora Intrínseca
Crédito das fotos na ordem: João Caldas, Claudio Augusto, lolitapille.com
Essa não é, mas bem que poderia ser, a fala inicial do espetáculo Hell, em cartaz no Teatro Sesi. A peça estrelada por Bárbara Paz e Ricardo Tozzi é homônima ao livro lançado em 2003 na França, sobre os jovens da elite parisiense e seus abusos de consumo, drogas e luxúria. E são exatamente esses excessos que incomodam o expectador. A trama é curta e ocorre toda nos mais requisitados pontos de Paris com um ritmo desenfreado através de uma narração em 1ª pessoa. Sua adaptação para os palcos foi na forma de um (quase) monólogo, sem mudanças de cenário e com duração de 75 minutos. A trilha sonora e a iluminação complementam o andamento não linear.
A adaptação é fiel ao romance, muitas das falas são transcritas do texto original, e um elemento fundamental que foi transposto com sucesso é a ironia. Lolita Pille, a autora, possui um senso de humor fino, porém sarcástico que interpretou na última novela das oito, Viver a Vida foi a alcoólatra Renata, conseguiu captar e associar ao óbvio drama também contido na personagem. Aliás, somada ao preço e à localização (detalhados no final), a escolha da atriz da protagonista foi um fator responsável pela popularização da peça. Em plena quinta-feira, a platéia estava lotada e pelo que se percebia - e não foi comentado pelos grandes meios de comunicação por se tratarem de sessões distintas - o público ali presente não estava acostumado com esse tipo de espetáculo.
Palmas em excesso, celulares tocando e assobios; hábitos não comuns ao teatro eram perceptíveis e a realidade totalmente estranha retratada causava ora sensação de inveja, ora de pena. Uma das próprias falas de Hell é “Tenho nojo de mim”. Mas apesar de todo o contexto em que é inserida a peça, trata-se de uma história de amor, ou melhor, da incapacidade de amar. O que se percebe é que o status social das personagens não repele as fragilidades humanas, acentua-as.
Hell é uma garota de 26 anos, dotada de lucidez para decodificar o seu mundo mediocre. Andrea, seu amor, já o decodificicou e é daí que surge a atração de ambos. Destaque para a associação com a ópera La Traviata e ao intercalamento de cenas com um figurino simples e adequado. Outro fator que colabora para o boca-boca - mas para outros nichos - é o diretor. Hector Babenco, argentino, responsável por excelentes filmes nacionais, comanda em um tema que apesar de não ser familiar, tem a mesma temática dos seus maiores filmes, Pixote e Carandiru: a desigualdade social.
Exibido em uma época onde a Era Gucci é tida como morta e onde os maiores bilionários do mundo doam metade de suas fortunas, coloca em dúvida uma das melhores falas do livro: “Minha espécie irá perdurar”. Diferentemente do filme, trata-se além disso, de uma reflexão individual sobre a vida e de seu significado. Intenso e sem lição de moral, prende a atenção do leitor, seja pela quase nudez - tornando-a recomendada para maiores de 16 anos - e estética ou pelo conteúdo contestador que muitas vezes perde evidência no cotidiano.
Temporada até 19/12/2010
Às 20h, Teatro do SESI – São Paulo (Av. Paulista, 1313 – Metrô Trianon-Masp).
Quintas e sextas: entrada franca.
Sábados e domingos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Nos dias gratuitos, a distribuição dos ingressos tem início a partir da abertura da bilheteria no mesmo dia do evento.
Horário de funcionamento da bilheteria: de quarta-feira a sábado, das 12h às 20h30; domingo, das 11h às 19h30.
Informações: (11) 3146-7405
Livro Hell - Paris 75016
Preço sugerido: R$34,00
Editora Intrínseca
Crédito das fotos na ordem: João Caldas, Claudio Augusto, lolitapille.com
Não lerei os seus textos como forma de protesto.
ResponderExcluirSem mais,
Giovanna.