domingo, 28 de novembro de 2010

A sorte e o azar de ver um Beatle em 2010

Não é só de menininhas ficando com menininhos que vivem os filmes com finais óbvios. Uns vão na linha “banda que precisa fazer show”, e às vezes “encontre o seu ídolo”. Outros são os dois ao mesmo tempo. Normalmente esses filmes são bem divertidos, afinal, das duas uma: ou você se identifica, ou olha com um desprezo meio curioso para aquelas pessoas que dormem em filas, saem correndo em debandada, choram, se descabelam, assim por diante; a trilha também costuma ser boa. Rock 'n' Roll High School é um. Como o nome sugere, é sobre uma adolescente em um colégio chato correndo atrás dos Ramones, num clima de non sense delicioso. O filme é ótimo, mas não foi um Ramone que tocou pra 64 mil pessoas no Morumbi exatamente uma semana atrás.

Como o pôster de lançamento é meio traumático, isso acima é um screencap de I Wanna Hold Your Hand de 1978, aqui Febre de Juventude, estréia de Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro, Forrest Gump). O filme aborda a histórica apresentação dos Beatles no Ed Sullivan Show, em Fevereiro de 1964, do ponto de vista de um grupo de adolescentes que vai de New Jersey pra NYC - sem ingressos -, cada um com seu motivo. Uma aspirante a jornalista quer tirar fotos, outra quer loucamente ver o Paul, outra fã de folk quer protestar e por aí vai.

Não deve ser esperada grande coisa desse filme, ele foi feito para ser leve, engraçado. O que acaba sendo comentado, como a polêmica dos meninos de cabelo “comprido” (três anos depois eles iam ver só), é feito também nesse clima leve, quase sutil. Nada sutil mesmo é a beatlemania; gritinhos histéricos, correria e loucura aos montes; por isso há quem se irrite com ele. E quando você toma o fenômeno da beatlemania como personagem principal, o filme fica mais interessante.

Dois dias antes do show do Paul aqui em SP, Lou Reed fez uma sessão de autógrafos em uma livraria, para 250 pessoas contadas que estavam lá há pelo menos três horas, enfileiradas de pé e abraçadas nos seus LPs do Velvet. Ao lado, outras se reuniam para ver o filme novo do Harry Potter, usando casacos pesados e cachecóis num calor de 28 °C. Enquanto, é claro, pessoas também faziam fila no estádio do Morumbi. Enfim, fanatismo.

Poderiam ter escolhido qualquer outra música para o título, que combinaria: tantas juras de amor eterno em músicas dos Beatles. Mas “I wanna hold your hand” é diferente. Ela é uma das maiores representações do amor pueril, inocente; o gesto mais besta vale a pena. Exatamente o mesmo amor dos fãs: esperar horas, gastar rios de dinheiro, fazer papel de bobo, só para poder ficar uns minutos perto, agradecer ou mostrar que é importante pra você – por mais piegas que isso possa soar.

É evidente que mesmo o gesto isolado parecendo inocente, o todo tem lá seus dissabores. Como queimar seu filme, incomodar seu objeto de adoração e se decepcionar com ele. Todos minúsculos e nulos, perto do que aconteceu com John Lennon: símbolo desse amor exagerado e vítima da sua fama e do fascínio que gerava. (Aliás, seu aniversário de morte já é semana que vem.) Mostrando assim que os Beatles são únicos não só pela música, mas pela influência no comportamento de tantos, chegando aos extremos.

A beatlemania é vergonha alheia completa. I Wanna Hold Your Hand não tenta dourar a pílula; o ridículo da coisa toda é bem enfatizado em todos os momentos. Porém, é sim justificado. Tenho certeza de que muitos dos estavam gritando por Paul McCartney semana passada gostariam de ter estado lá com o bando de histéricas dos anos 60, acompanhando os lançamentos e correndo, chorando, vendo de perto e tudo mais. Porque se mesmo o restinho que sobrou – assistir a um show 40 anos depois de a banda acabar - emociona tanto, imagine só the real thing.


39 comentários:

  1. O que eu acho realmente triste é que toda a luta que está presente na sua música perdeu lugar para uma febre louca e cega. É muito mais confortavel assistir o Paul por sei lá quantos reais deixando de lado o sentido político-social das músicas, muito mais gostoso não se preocupar com essas coisas. Mas muito mais incompleto (não apenas pela ausência dos outros integrantes).

    Para mim os verdadeiros fãs de Beatles não se esquecem dos problemas sociais do mundo: estão nas ruas lutando contra as guerras absurdas, como na Palestina, lutando contra os golpes militares, como em Honduras, etc.
    Não há como compreender bem as músicas dos Beatles se não se entende seu significado.
    Isso sim, acredito, é vergonha alheia...

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  2. Olha o ativismo dos Beatles http://www.youtube.com/watch?v=9k5ooaufrLM

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  3. Não acho que a beatlemania seja vergonha alheia completa. Faz parte de quando se é jovem ter paixões ridículas. Faz parte de quando se é jovem gostar de algo tão intensamente que nem se sabe o porquê. E diga-se de passagem, gostar de Beatles não é um problema. :).

    E eu não vejo nos Beatles um sentido de ativismo tão grande assim. Eles cantavam o amor e a paz - beleza -, mas eles também tavam nem aí pro Maio de 68. O grande mérito dos Beatles é fazer canções, e não panfletos.

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  4. O Paul McCartney que não ligava pros problemas do mundo compôs "For No One". O Paul McCartney que se importa com os problemas do mundo virou vegan.

    Se pá eu prefiro o primeiro.

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  5. Não vou entrar no mérito de quem você prefere ou não...
    Os Beatles, anônimo, estavam bem ai pro Maio de 68. Estavam BEM ai pra guerra do Vietnã. Lennon quase sofreu uma deportação. E você diz que suas músicas não eram políticas? Isso não é um desrespeito? Lennon deixou de poder se posicionar politicamente por ser "um astro". Sua saída muitas vezes eram suas músicas. Olha o quão absurdo é você falar que "as músicas não tem um sentido de ativismo tão grande assim"!
    E, sim, concordo, eles faziam canções. Até ai, Chico também faz canções e "não panfletos". O problema é que você está excluindo a possibilidade de uma canção, de uma obra, ser panfletária, que divulgue idéias e ideais.
    Isso é um absurdo... Uma canção está sujeita a um contexto. Para analisá-la e entendê-la você precisa inseri-la no contexto. Esse contexto é social e político. As canções não foram escritas por uma força do além, mas por um motivo. Até as canções, como você colocou? Ah, sim, sobre "amor e paz" (que são posições políticas, por mais que você coloque como algo "pequeno"), até as canções que fazem alusões às drogas. Todas tem sentido social e político. Você,ao ignorar isso, perde metade do sentido da obra deles. Eles não foram parnasianos (que até isso está sujeito a uma determinada política, a um ideal)...
    No mais, não vim aqui instaurar uma discussão nos comentários. Podemos conversar sobre isso depois se quiser.
    Até.

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  6. No mais, de fato, a música não é crítica, imagina... É uma apologia ao sistema, sure... Assim como "A hard day's night" é um pedido para as pessoas se matarem de trabalhar pq só assim o capitalismo anda... Por favor, né...
    Aliás, não sei se você sabe, mas uma das coisas que mais perturbava o Lennon era que para divulgar suas idéias ele tinha que se sujeitar ao sistema que ele lutava contra.
    Por essas coisas eu acho que Lennon se

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  7. Pra analisar qualquer tipo de manifestação artística, você tem que levar em conta o contexto político-social. Até no caso do parnasianismo. Olavo Bilac não seria a mesma coisa se tivesse surgido no século XXI, assim como fazer um poema dadaísta hoje é completamente diferente de se fazer um poema dadaísta em 1919.

    Agora, isso é uma questão de análise, completamente separada do ativismo ou não-ativismo do autor. Claro, sempre existem alguns valores subjacentes: ser apolítico já é uma decisão política. Mas até aí, você consegue analisar valores subjacentes em propagandas, artigos de jornal e até mesmo em "A hard day's night". Chama análise do discurso. Dizer que os Beatles fizeram luta social, entretanto, é um grosso exagero. Talvez o John Lennon, no final da banda e na sua carreira solo. Mas os Beatles, em sua fase áurea? Ou pior, o Paul McCartney? Não, com certeza não.

    E eu acho que é a quinta vez que eu quebro a regra de não comentar no próprio blog, hahah. Mas os comentários estão aí pra isso, pra ser um espaço de discussão, certo? E, por favor, não leva pro lado pessoal. É uma discussão, e só.

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  8. Eu tenho mais vergonha alheia dos pseudo ativistas políticos que só gritam, gritam e não fazem nada do que dos alienados. É ridículo ver gente só na panfletagem, armando greve com qualquer desculpa ao invés de investir esse tempo fazendo alguma coisa de verdade. Empurrar o trabalho sujo pra mão dos políticos é muito fácil.

    Pronto, falei.

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  9. Não falei que eles fizeram luta social... Até porque a própria luta social é algo muito complexo... Mas que eles tinham consciência de classe, tinham (mas isso não importa para essa questão). O que eu quis colocar é que não acho que da pra sair cantando qualquer música dos Beatles sem entender o que ela retrata e fala. Para mim (ressalto, para mim pq é uma opinião e não baseado em estudos, como o resto dos meus comentários) um direitista cantar Beatles é como uma pessoa de esquerda cantar uma música que deprecie a mulher. É incongruente com suas opiniões políticas.
    Não estou dizendo que oh, devemos proibir as pessoas de ouvir o que elas quiserem, estou dizendo que deveria haver um bom senso... Nisso entra uma crítica minha a própria atuação da banda, se quer saber. E do Paul agora - por esse e outros motivos não fui ao show, apesar de ser fã imensa dos Beatles. Mas esses são outros 500.
    No mais, você é do jornalismo, né? Tem uma matéria na letras chamada semiótica e análise do discurso... Muito boas para aperfeiçoar as duas habilidades.
    Por fim, comentário ridículo o do anônimo, sinceramente. Se tivesse entendido o mínimo do que postei, com certeza não teria tido esse tipo de reação, até pq seu comentário não teve nenhuma ligação nem com o que eu disse e muito menos, se você me conhece, com a minha atuação política.
    Volto a dizer que prefiro continuar a discussão em outro lugar para não sobrecarregar o tópico.
    é isso.
    abraço

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  10. Ahhh, eu fiquei com vontade de falar! xD

    Beatles é tanto uma crítica política quanto Matrix. Não interessa se neguinho morre levando tiro e canta musiquinha sobre a violência do mundo, isso não faz de sua postura nem de sua música críticas.
    Os anos 60 estavam inundados por essa onda revolucionariazinha, mas não significa que qualquer pessoa que compre uma jeans rasgada e não coma carne seja um crítico.

    Beatles não tem nada de crítico por causa de sua forma. Não tem a ver com consciência de classe, não tem a ver com a letra das músicas, não tem a ver com ir ou não em passeata.

    A forma de suas músicas é típica de uma industria cultural. Formato de música pop, agradável, voltada para o entretenimento, mediada pela sensualidade sonora, com conteúdo de apelo cultural. Reproduz elementos estruturantes do sistema ao qual eles acreditam se opor.
    E nem me venham com essa de "É muito revolucionário e psicodélico pra música. O Sargent Peppers é isso e aquilo", porque não é.

    Porque o que neguinho acha que é muito revolucionário pra música é montagem de vanguarda como valor de mercadoria, como grau de modernidade.

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  11. Concordo com o que o Boina [salvem o momento] diz a respeito de suas músicas terem um formato de venda - e foi por isso que disse (e repito) que para Lennon (sem entrar no mérito do Paul, que nunca fui com a cara #falei rs) era o inferno. Divulgar suas idéias pelo único meio que sabia, que era uma contradição.
    Mas daí a dizer que as letras das músicas não tinham um sentido político real, que era enganação pra vender mais é pura especulação. Não há nenhuma prova concreta disso, embora possa ser verdade. O resto, podemos ler em várias entrevistas, pelo menos se não quisermos entrar no mérito das análises...
    Aliás, o fato de ser verdade não impede que a ideologia contida na música da banda não deva ser entendida. Enfim, essa também é outra discussão...
    Só é absurdo falar como disse o anônimo anteriormente, que não há crítica (mesmo que ela seja falsa, como o boina colocou). Pois há. Revolution, por exemplo, sabe... Saiu no Álbum Branco no fim de 68... E '68 não a influenciou? Por favor, né...
    Enfim... =P

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  12. "Porque o que neguinho acha que é muito revolucionário pra música é montagem de vanguarda como valor de mercadoria, como grau de modernidade."

    Hum, então você fez uma inferência de que todas as vanguardas com algum grau de modernidade não são revolucionárias? Enfim...
    Benjamin reconhecia o surrealismo como uma grande vanguarda revolucionária.
    Adorno achava admirável a música atonal de Shoenberg...
    O problema aqui é usar as palavras forma e conteúdo de maneira meio confusa.
    Maiakóvisk disse, no começo do século XX, que não era possível uma arte revolucionária sem uma forma revolucionária. Mas, não sejamos, anacrônicos...
    Com certeza naquela época, infestada de academicismos, era urgente uma forma revolucionária, mas, hoje, depois do modernismo e do alargamento do formato artístico para praticamente qualquer direção, faz sentido falar em forma revolucionária?
    Sim e não. Sim porque existem algumas formas que ainda são revolucionárias, como por exemplo Arca Russa, que é filmado em um único plano o filme inteiro. E não, pois existem filmes hoje que, mesmo vindo do coração da indústria cultural, como Clube da Luta, que é sim um romance hollywoodiano, pelo menos em seu formato de drama clássico, não pode ser considerado, pelo seu conteúdo, como um filme que corrobora para a continuação desse mundo doentio.
    Conclusões:
    As vanguardas do começo do século XX colocaram-se sim como alargadores do formato das obras de arte, colocando-se como revolucionárias, o que também não quer dizer que não foram cooptadas pelo capital em um formato kirstch desenvolvido pelo pós-modernismo principalmente.
    É preciso tomar cuidado com o termo "indústria cultural". Há grandes objetos de conteúdo revolcionário que vieram do "coração" do sistema, inclusive beneficiando-se de suas contradições para espalhar-se.
    Enfim, não pintemos o mundo de preto e branco, as grandes obras de arte podem vir de qualquer lugar, da África, da Europa, dos clássicos, dos modernos, da indústria cultural ou sei lá da onde.
    E uma provocação: ser vegetariano é tão revolucionário quanto ficar coçando em casa e escrevendo uns textinhos pra combater a "indústria cultural" depois que isso já foi feito por outras pessoas e de maneira bem melhor, e olha que as pessoas que o faziam não criticavam e depois viravam as costas pra jogar o último jogo de videogame do mercado. Acho que falta um senso de ativismo hoje, olhem Chomsky, olhem Benjamin, não se pode ter como espelho intelectuais de gabinete. Se for pra ser fã de um intelectual apático prefiro mesmo olhar para Lennon, que tinha sim grande atividade política.
    Just some food for thought.

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  13. Bem, eu não quero cortar a onda da discussão política e histórica, mas eu quero escrever sobre o que eu pensei que fosse o foco do texto. Quem quiser saber minha opinião sobre ideologias, ativismo político e todo o resto me manda um email.

    Ok.

    A relação fã/artista mudou muito desde os tempos de I Wanna Hold Your Hand e por isso a gente acha a beatlemania uma "vergonha alheia".
    O Paulo Rená, do Móveis Coloniais de Acaju, fala no blog da banda sobre um fã 2.0, um fã mais presente e que tem muito mais possibilidade de diálogo com seus ídolos que há 50 anos atrás. Essa barreira que existia antigamente era o que fazia as pessoas gritarem o mais alto que pudessem - só assim elas seriam ouvidas. Mas isso não se aplica ao fã que sugere músicas pra um setlist de um show dentro da casa do próprio artista, ou que comenta o vídeo de pré-estreia de um álbum no youtube.
    Até mesmo o fato de existirem gravadoras virtuais como o Trama mudam a relação entre o artista e o fã - o que vamos pedir pra eles autografarem? Claro, ainda existem aqueles que compram os discos, mas até esses baixaram as músicas antes pra saber do que se tratava. A tecnologia é suporte pra um diálogo em que tanto o artista quanto o fã são comunicadores ativos - o que traz o ídolo pra um plano em que ele é mais humano que deus.

    Além de toda essa questão da comunicação existe também o fato de que o enganche principal entre o artista e o fã é emocional e se dá através não só da música, mas de toda a imagem que aquela banda cria no seu entorno. Isso é parte do que é a música hoje, mas os Beatles já tinham essa noção naquele tempo. O ouvinte se conecta emocionalmente com esse entorno e aí é que vem a Beatlemania, os gritos desesperados. É emocional.

    Essa é minha humilde opinião. Meu querido amigo Alan Vieira fala um pouco disso no vlog dele (http://youtu.be/2olbfY_jIQQ) e o endereço do blog do Rená é esse aqui http://www.moveiscoloniaisdeacaju.com.br/pagina/1133

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  14. se o boina e o tuca disputassem, eu votaria no no Tuca. (e se o fed reclamar do comentário, que você delete o seu)

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  15. Me sinto contemplada pelo Tucka.
    "Se for pra ser fã de um intelectual apático prefiro mesmo olhar para Lennon, que tinha sim grande atividade política."

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  16. As Vanguardas de 20 tinham sim conteúdo crítico e eram sim capazes de fazer um enfrentamento. Não é disso que estou falando. O texto de Benjamin é sobre as vanguardas de 20.

    Problema é que essa forma, antes crítica, é incorporada e reproduzida. Só aí que ela se torna grau de modernidade em mercadoria.
    Em 20, fazer montagem é crítico por si só. Hoje você vê isso no Bob Esponja. Porque, afinal, aquilo é praticamente só surrealismo. E eu adoro Bob Esponja!

    Beatles usa da forma de vanguarda pra tentar realizar alguma espécie de crítica. Existe, sim, esforço emancipatório nos Beatles, assim como existe em praticamente qualquer coisa naquela época, estética, intelectual, comportamental, o que seja. O problema é que não tem capacidade de enfrentamento. Mais reproduz a própria lógica do que supostamente a enfrenta.
    E vá lá, quem sabe o Lennon soubesse disso, não sou tão afeito a Beatles pra saber julgar. Mas isso não torna de suas músicas ou seu comportamento mais capazes.

    --

    Agora, sobre enfrentamento em pleno século XXI, é sim uma coisa muito mais complicada. Porque o último grande momento de enfrentamento é a década de 60. Não com Beatles e Jimmie Hendrix, mas com Godard e Pollock.
    O que está em jogo não é mais a técnica montagem (e percebam as implicações de juntar as duas palavras), mas a forma estética como um todo, e como ela é ou não capaz de realizar algum tipo de enfrentamento.
    E, só pra constar, não acho, nem de longe, que a Arca Russa tenha essa capacidade. Muito pelo contrário. Fazer um filme de 2h em plano sequência não é nada mais do que elogiar a especialização técnica.
    Capaz é Lars Von Trier, que destrói o mundo inteiro. É Braid, é Coppola (viram o filme novo, dele?)... A gente conta no dedo. E nada disso tem a mesma capacidade crítica que tem Godard. Mas é legal quando aparece alguma coisa que tenha alguma capacidade, que faça mais do que reproduzir identidade e sensualidade.

    E Clube da Luta é a mesma besteira que Matrix ou Show de Truman, se você me permite.

    Quanto à sua provodação, Tuca, não vejo o menor sentido nela. Ainda porque eu nunca fiz esforço nenhum pra ser "revolucionário", se é isso que você está tentando dizer.
    Mas que fazer uma crítica da estrutura do mundo é mais capaz do que se vincular a uma minoria cultural, é. Que ser um "intelectual de gabinete" é mais capaz do que se drogar e fazer passeatas, é.

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  17. BRIGA BRIGA BRIGA BRIGA BRIGA \o/

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  18. Ta, vamos lá, gente...

    Primeiro sobre a provocação do Tucka... Enquanto estudante de Letras me sentiria levemente ofendida se não tivesse entendido o que ele quis dizer... A palavra é meio necessário para a liberação de nossas idéias. Não é porque outros já falaram a mesma coisa que eu não possa ou deva repetir do modo que eu ache mais apropriado para que a idéia possa atingir maior número de pessoas (e isso é uma provocação pro Boina também, devido a discussão do aniversário da Vivi rs, enfim). O que eu acho é que não é SÓ isso, mas, novamente, outra discussão...
    Quanto a resposta do Boina à provocação do Tucka:
    Não podemos colocar pesos diferentes, gente... A passeata tem outro objetivo do que o texto escrito. Só isso... É ridículo colocar uma forma como superior a outra.

    Agora sobre o que realmente importa, que me desculpe a Mel, mas acho que podemos ir muito além do texto, até por termos mais espaço e por sermos leitores, temos essa função.
    O que o Boina colocou, da existência de um fortalecimento do sistema em alguns movimentos de vanguarda é verdade sim. Por um motivo simples: vivemos no capitalismo e não temos como sair disso. É verdade, gente. Por mais de esquerda, por mais radicais que formos: vivemos sob o capitalismo e estamos sujeitos a suas regras. Beatles fortaleceu (não estou falando que eles são culpados pelo capitalismo, claro, mas que eles impulsionaram ainda mais o sistema) sim o capitalismo na sua onda de ir contra ele. Assim como todos os seus fãs. Mas isso não significa que, de repente, suas músicas não tenham sentido político-social ou que eles viraram direitistas. Significa que, por estarem inseridos num contexto de fortalecimento do capitalismo, seu modo de lutar contra ele tornou-se mais um produto.
    É isso que eu acho absurdo fãs corroborarem. Não os da época, os de hoje, pois os de então sabiam o que eles queriam passar. Hoje é "só" uma música. Lennon odiava isso, como já disse. Se ele tivesse sido enterrado, se reviraria no túmulo...
    Sobre as técnicas cinematográficas e de roteiros não me sinto apta a julgar, mas pelo que eu entendi me parece que o Boina acabou fazendo o mesmo erro de elencar quem é mais inovador e revolucionário no cinema. Isso é um erro sim, pq há o contexto (novamente). Como julgar quem viu o mundo de maneira mais original e melhor retratou nossa sociedade? É uma comparação muito complicada de se fazer em uma discussão como essa... São comparações para longos trabalhos, pq devemos analisar tudo e não citar vários artistas e obras e falar que um é melhor que o outro.
    é isso, gente...

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  19. Bom, vamos lá.
    Primeiro queria dizer que não concorda com postagens anônimas, primeiro pq, geralmente, elas servem somente para atrapalhar uma discussão frutífera, como está de agora. Ainda mais quando o anônimo vem com gritos que mais parecem de um animal torcendo pela aniquilação física de alguém.
    Segundo, reconhecido o valor das vanguardas do início do século XX, o que eu achei que vc também tentava combater, resta a questão da famigerada indústria cultural.
    Quero também dizer que mihas provocações são somente intelectuais, não desejo e acho repulsivo partir para o lado pessoal(que foi o jeito que o anônimo interpretou)
    Boina, voê não acha que, mesmo filmes que saem de dentro da indústria cultural, como Show de Truman ou Clube da Luta ou Natureza Selvagem, não tem seu valor?
    Penso que nós, estudantes universtiários, podemos e devemos ter acesso a uma cultura um tanto mais extensa, que inclui nomes como Godard, Von Trier, Coppola, mas, e as pessoas que não tem esse acesso? Para elas, é impressionante ver um filme de conteúdo subversivo, como os três citados anteriormente.
    Portanto, elas se utilizam do próprio sistema capitalista e suas contradições para atingir o maior número possível de pessoas, instigando suas mentes com idéias que, teoricamente, deveriam ser "encobertas" pela ideologia dominante.
    Não se pode esquecer que Focault já assinalava que mesmo lugares como a universidade possuem regras bem estritas, e, na maioria das vezes, também ligadas ao capital. Repudiar toda a indústria cultural, como fazia Adorno, parece ser, algumas vezes, elitista demais. A rigor, o cinema já nasce como uma arte para as massas, o que não impede que sejam feitas verdadeiras obras primas. O esforço mínimo para para mudar os padrões vigentes, como filmes "revolucionários" surgidos de dentro do coração do sistema, são válidos, na miha opinião claro.
    O que é realmente abominável são filmes como, por exemplo, O Fabuloso Destino de Amelie..., que são feitos como modernos, mas são somente pastiche de algo, um pastiche de um tipo de cinema francês, que só serve para alimentar uma parcela da população que se acha mais culta do que a "massa", que, por si só, já é um termo repulsivo, dado que existem pessoas, não massas, mas essa já é outra discussão.
    Ok, fechado esse ponto.

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  20. Outro ponto.
    Você diz que nunca tentou ser revolucionário, mas aqui se enxerga uma contradição: suas referências são revolucionárias! A maioria de suas críticas é baseada nos escritos teóricos de Theodor Adorno, que era sim um... comunista.
    O que quero dizer é que é mais reacionário ainda querer advogar um certo tipo de arte bem específico, e que só está ao alcanço de poucos, simplesmente por fazê-lo. Os filmes de Coppola, de Lars Von Trier e de Godard, principalmente, tem uma postura crítica muito forte. Olhe o próprio Godard, um artista que apoiou os movimentos de 1968.
    Hoje é muito difícil ser uma pessoa que quer mudar o mundo. Porque a maioria das pessoas não enxerga que não ter uma posição política perante a vida, típico de algo pós moderno, também é uma ideologia.
    As pessoas acham muito libertário não participar de nada, é daí que surge a idéia de atacar todo mundo, os vegetarianos, os ambientalistas, as politizados. Mas, quer saber de algo, essas pessoas são muito mais conscientes, pois pelo menos estão tentando fazer algo para mudar essa bagunça que virou isso aqui.
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    "Mas que fazer uma crítica da estrutura do mundo é mais capaz do que se vincular a uma minoria cultural, é. Que ser um "intelectual de gabinete" é mais capaz do que se drogar e fazer passeatas, é."

    Você não consegue enxergar que sua posição extremamente elistista já o coloca dentro de uma minoria cultural, boina. Também não acho que o trabalho intelectual seja superior ao trabalho físico, aposta que quase todos podem ler algum xerox na faculdade e fazer crítica cultural, mas, geralmente, os aclamados "críticos culturais" tentam se colocar acima do mundo inteiro.
    Quanto a questão de ser um "intelectual de gabinete" eu não estou me referindo exatamente a fazer passeatas e se drogar, duas coisas que vc colocou de modo bem superficial. Huxley fez muitos experimentos com mescalina e foi um grande intelectual, mas isso é outra história.
    Estava me referindo mais especificamente a pessoas como Noam Chomsky, por exemplo, que tem um admirável trabalho em linguística e também uma atuação política admirável, ou Bertrand Russell também, ou, no cinema, Charles Chaplin. Sem falar em Gandhi, que nunca foi intelectual, mas com algumas "passeatas" conseguiu livrar seu país do colonialismo.
    Já falei demais.

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  21. Eu acho que entendo e aceito a posição do Boina. E concordo que filmes como Clube da Luta não são exatamente filmes "subversivos". Discordo em relação a Tarantino, mas isso é outra discussão. Enfim.

    Só acho que você tem uma tendência extrema a analisar minuciosamente aqueles que surgem de dentro da indústria cultural em busca de sintomas que provem que eles não passam de manifestações do sistema capitalista e, quando chega no cânone de artistas com A maiúsculo, você desiste bem mais cedo. Principalmente na música, que você acaba analisando com algumas generalizações completamente erradas. Tipo o que você considera um sistema harmônico. Mas a gente discute isso nas férias.

    Realmente, se você entender uma música como "Revolution 9" só como expressão da psicodelia do tempo de então, ela não passa de confirmação de valores. Mas tem alguns problemas nisso: primeiro porque a visão que você tem da psicodelia da época é a visão de hoje disso, quando elementos disso já se infiltraram em todo reduto possível, de desenhos animados a tirinhas - e, portanto, já é um elemento cristalizado. Tratando isso dessa maneira, a segunda escola de Viena e o seu querido dodecafonismo não diferem de maneira nenhuma da psicodelia: ambos estavam indo de encontro a um antigo padrão (e não me venha dizer que a psicodelia era o padrão, por favor) e, em menos de 10 anos, acabaram virando trilha sonora de cinema e de novela. Ah, e é bom lembrar que "Revolution 9" foi inspirada também por coisas que o Stockhausen compunha nessa mesma época.

    E em que momento a discussão passou a dar como certo que basta alguma coisa ter teor crítico pra ser considerado arte? Se for assim, não vale mais a pena escrever um tratado teórico - digamos, o "Indústria Cultural" - do que fazer coisas tipo metáforas e poesia? Aí pelo menos a crítica fica mais clara. Hihi.

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  22. "Primeiro porque a visão que você tem da psicodelia da época é a visão de hoje disso, quando elementos disso já se infiltraram em todo reduto possível, de desenhos animados a tirinhas - e, portanto, já é um elemento cristalizado."

    Minha gramática rocks.

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  23. O problema é que a forma reproduz a lógica, então em última instância não é subversivo.
    Não é o "conteúdo subversivo" e o filme nascido no coração da indústria cultural que utilizam do sistema pra realizar uma crítica, é o capitalismo que utiliza da crítica pra reproduz a lógica do mercado!
    Repudiar a Industria Cultural é elitista? Só se for referente a uma elite cultural.
    Vai fazer o quê? Fazer concessão? Tudo bem se ele é um imbecil que só reproduz lógica mercantil, pelo menos ele viu Show de Truman e ficou um pouco mais crítico? Não concordo.
    O Esforço emancipatório é válido, sim, mas não significa que seja capaz. ]
    E não vejo diferença nenhuma entre o pastiche de Amelie, pra parecer moderninho, e o pastiche do Clube da Luta ou dos Beatles ou do Tarantino ou do Gondry.

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    Dizer que o Adorno era comunista é uma bobagem sem tamanho. O Adorno não acreditava no comunismo como saída.
    E a minha crítica não é só baseada no Adorno, mas em todo o pensamento Frankfurtiano.
    E dizer que Adorno é reacionário por ser hermético também é bobagem. A diferenã é que o pensamento dele não acredita em uma revolução do povo, simplesmente porque não acredita na autonomia intelectual do povo.
    Se ser "politizado" virou pensamento de identidade, então reproduz lógica de mercado. Ponto.
    Não que seja a única coisa que reproduz lógica de mercado, mas o faz em grande escala, e maneira mais notável e mais alienada do que uma "crítica de gabinete", na minha opinião.

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    E sim, o meu pensamento é colocado dentro de uma minoria cultural. O problema não é esse.
    O problema é que o sujeito moderno vê o mundo pela lógica da mercadoria. Inclusive o intelectual e o artista. A diferença é que o intelectual tem mais capacidade crítica e o artista mais capacidade estética.
    É muito mediocre dizer que a "crítica elitista" é tão ruim quanto comprar uma bolsa da Gucci e se achar o máximo só porque os dois pertencem ao mesmo mundo, portanto à mesma lógica.
    Não conheço Chomsky, nem Russel o suficiente pra julgar.
    Mas Gandhi é puro pensamento de Identidade, e Chaplin tem uma crença ingênua na autonomia, que é a coisa mais previsível, que mais reproduz lógica de mercado. "O mundo é cão, mas o amor é puro"

    --

    "Só acho que você tem uma tendência extrema a analisar minuciosamente aqueles que surgem de dentro da indústria cultural em busca de sintomas que provem que eles não passam de manifestações do sistema capitalista e, quando chega no cânone de artistas com A maiúsculo, você desiste bem mais cedo"

    Você tem razão. Mas isso é um problema metodológico complexo.
    Quer dizer, quando você se depara com certas coisas, não dá pra não achar nelas os "sintomas da indústria cultural".
    Em compensação, outras coisas parecem ser fortes o suficiente em outros aspectos pra superarem os quesitos em que reproduzem os "sintomas da indústria cultural".

    --

    Mas o Dodecafonismo não tem nada a ver com a Psicodelia.
    O Dodecafonismo é uma forma estética que representa a equalização do mundo, ora em mercadoria, ora em dado científico.
    A psicodelia é uma espécie de tentativa de fuga da realidade através do estímulo sensual. Problema é que o estímulo sensual é elemento estruturante da lógica mercantil.

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  24. Vou parar de bancar o advogado do diabo e defender o Tucka (é, TucKa)...
    Perdi o que tinha escrito, então vai ficar mais porco pq deu preguiça, mas vamos lá...

    Tudo bem, Adorno é um dos caras mais fodas da Escola de Frankfurt (eu, pessoalmente, prefiro o Benjamin). Isso não significa que tudo o que ele disse na sua vida e nas obras deixadas é verdade. Temos que parar com essa coisa de endeusar um acadêmico ou qualquer outra pessoa, gente, sinceramente.

    Adorno, por exemplo, acreditava que o jazz não era música de resistência ou de protesto justamente por ter entrado (pois não surgiu lá, surgiu nos bares clandestinos que os negros norte-americanos frequentavam) na "indústria cultural". Eric Hobsbawm defendeu em pelo menos dois livros ("História Social do Jazz" e "Pessoas Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz") o contrário. Que não podemos esquecer do sentido do jazz, de seu protesto porque ele entrou na indústria. Ele não deixa de ser arte-protesto por ter colaborado com o capitalismo. O sistema é um monstro (estou exagerando de propósito, antes que tentem usar isso como argumento contrário) que, infelizmente, consome o que está ao redor dele.

    Temos que parar com essa idéia de só pq o cara é canônico adotar suas idéias sem ao menos refletir sobre elas. Beatles não nasceu no seio da indústria cultural. jazz também não. E se tivesse eles seriam músicas menos revolucionárias? Menos sérias em seu sentido?

    Um filme aos moldes da indústria ou uma música assim, mas com conteúdo subversivo é menos importante que um filme totalmente inovador ou uma música totalmente inovadora? Gostaria muito de saber que critério está sendo usado para elencar melhores filmes/músicas ou mais artísticos senão opinião. Não temos como falar que uma coisa é mais revolucionária que a outra, pois existe contexto, gente. Além do contexto existe vontade: o que o autor/diretor/letrista/etc quer com a sua obra? Se é atingir o maior número de pessoas possível, desculpa, mas vai ter que utilizar o sistema. Isso se chama usar os meios do capital para, aos poucos, destruí-lo ou ataca-lo. É claro que isso acarreta alguns contras, mas de que outra forma divulgar uma idéia? A revolução é feita por pessoas e, portanto, a idéia do socialismo deve atingir o maior número de pessoas, simples assim. Se para isso temos que usar o capitalismo, bem... Afinal, se não fosse assim, o que faríamos? Viveríamos em um acampamento anarquista?

    Acho que vale a pena ler os livros do Hobsbawm.

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  25. Falar em "pessoas a frente do seu tempo" é bobagem, assim como também é besteira falar em "pessoas que subvertem o sistema". Por quê? Simples, porque todos estão dentro do sistema. Ou você acha que Coppola, por exemplo, não veio da escola americana dos anos 70 e 80, na esteira de uma renovação do cinema para um estilo Blockbuster, que é o que domina até hoje. Não há como ser alheio ao próprio mundo em que se vive. Concorda que o próprio Adorno é hoje conhecido porque seus livros foram vendidos em massa e seu nome foi elencado como um intelectual central e tudo graças ao... sistema!
    Colocar-se como marginal ao sistema é morrer de inanição, ou se suicidar de uma vez. A partir do momento que você está vivendo, e consumindo, é impossível colocar-se fora desse mundo, mesmo que você só esteja comprando filmes do Kiarostami e ouvindo Mozart enquanto lê Shakespeare.
    Entender que não é possível descolar-se do sistema talvez seja o primeiro passo para
    utilizá-lo de maneira inteligente.
    Eu não disse que a indústria cultural é boa, como o Eco por exemplo, a minha questão é que, ainda enxergando a figura do autor, consigo detectar aqueles que, na minha opinião, fazem conteúdo subversivo. David Fincher, Kubrick, etc.
    A questão é que nem tudo precisa ter forma revolucionária, esse é meu ponto. A forma é também uma maneira de atingir o público, mas me parece que muitos desses "artistas", como o próprio Godard, chegaram a se preocupar tanto com a forma e com um certo hermetismo, que, se olharmos de perto, o conteúdo não tem nada, é chapado, é unidimensional, se assim prefere.
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    Sinceramente, qual é então seu objetivo com a crítica? Se sua crítica não é revolucionária, então, como eu já havia dito, você simplesmente pega como referenciais teóricos pessoas que tinham um engajamento político social e transforma em uma crítica que tende a diminuir os outros e engrandecer o próprio ego, que é o que a maioria dos "críticos culturais" fazem.

    O ponto é que seu argumento de que a forma reproduz a lógica é, em alguma medida, consistente. ok. Mas, você já parou pra pensar que até mesmo o jeito que escrevemos é um "forma" e que, portanto, se você não revolucionar isso, estará caindo na reprodução da lógica, ou você não acha que tenha um mercadinho de pessoas que querem ler críticas com linguagem frankfurtiana?
    É preciso ver que o capital tem uma força incomensurável, ele absorve todas as formas e conteudos. O próprio comunismo, anarquismo ou qualquer sistema alternativa é absorvido e vendido de outra forma. As roupas hippies, ou livrinhos de Marcuse e Adorno, tudo reproduz o sistema através do consumo incessante. Por isso acredito que Clube da Luta é sim subversivo, parar de comprar é a primeira atitude, seja o cd dos Beatles ou o livro do Adorno, que, para o sistema, são iguais.
    Suas críticas podem se voltar contra você mesmo, cuidado. Os argumentos são autofágicos. Tudo é mercadoria, cinema, livros, Chopin, U2, Adorno, minha imagem, sua imagem, nossa educação, a internet, as guerras, e tudo desenvolve-se dentro do sistema, sendo que, se a forma tem alguma emancipação, o conteúdo já foi absorvido.

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  26. Os livros do Hobsbawm sobre jazz podem até ser uma boa introdução, mas eles estão razoavelmente desatualizados quanto a alguns aspectos mais pontuais. O jazz não surgiu em "bares clandestinos", tampouco em New Orleans. Ele surgiu como uma mistura de elementos da música européia tradicional com elementos da música africana. E isso surgiu como música folclórica, em todos Estados Unidos, pra depois passar pros prostíbulos de Storyville, em New Orleans. Antes de ele entrar como mercadoria, ele era expressão étnica.

    E o jazz que o Adorno conheceu era o swing, que é, sim, uma versão diluída e mercantilizada de uma forma exponencialmente mais complexa. Claro, você tem um ou outro que conseguiu manipular esse pastiche e fazer arte, como o Duke Ellington, por exemplo, mas a grande maioria do jazz que virou a música da América é tão manufaturado quanto, sei lá, 50 Cent. Vide Glenn Miller e o seu "hino do swing", In the Mood. Comparar isso com uma verdadeira figura de expressão como, sei lá, um "Creole Love Call" do Duke Ellington ou uma "Parker's Mood" do Charlie Parker, alguns anos mais tarde é até idiota. E o Adorno não se preocupou com estes, só com aqueles.

    E o estímulo sensual vem bem antes do capitalismo e bem antes do modelo de artista romântico que se expressa pela arte ou do artista moderno que tenta mudar o mundo com sua arte. Muitas daquelas lanças pré-históricas não têm dano nenhum nas suas pontas - foram feitas só porque eram bonitas. A dependência desse estímulo e o exagero dele é, sim, um sintoma da lógica mercantil, mas a ausência dele também já se tornou uma forma cristalizada.

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  27. "O problema é que o sujeito moderno vê o mundo pela lógica da mercadoria. Inclusive o intelectual e o artista. A diferença é que o intelectual tem mais capacidade crítica e o artista mais capacidade estética.
    É muito mediocre dizer que a "crítica elitista" é tão ruim quanto comprar uma bolsa da Gucci e se achar o máximo só porque os dois pertencem ao mesmo mundo, portanto à mesma lógica."

    Dado que eu já disse isso, me abstenho de responder a maior parte do que foi dito.

    O universo simbólico do sujeito moderno já reproduz a lógica do capital. Eu já disse isso.
    Isso não significa que escrever crítica e comprar CDs sejam a mesma coisa.

    E, sobre "o jeito que escrevemos é uma forma", tem toda uma tradição linguística que fala só sobre isso. De Bakhtin a Barthes.

    Eu nunca disse que consumir Adorno era diferente de consumir Beatles. Eu só estou dizendo que dada sua forma, Adorno tem uma capacidade crítica maior do que Beatles. Só isso. Não disse que os intelectuais são pessoas abençoadas, não disse que a escola de Frankfurt é Atlantis e não disse que o pinto do Adorno é grande.
    Só disse que algumas coisas tem uma capacidade maior de enfrentamento do que outras, dado que sua elaboração formal visa à diminuição da reprodução da lógica do sistema.

    .

    E sim, algumas pessoas "vêem a frente de seu tempo". Engraçado como o Adorno viu a "calta de saída" do mundo na década de 40. Os intelectuais só foram perceber isso na década de 60...

    .

    Agora, se você acha que fazer passeata tem tanto valor quanto fazer crítica, vá enfrente. Mas quem te convida a olhar pro mundo agora sou eu. Porque passeata qualquer ativistazinho do meio ambiente, homossexual, negro, sem-teto faz.
    E achar que as coisas não pioraram muito da década de 60 pra cá é ingenuidade. Achar que os movimentos da década de 60 não foram frustrados é ingenuidade. Se apegar à "mudança mínima, qualquer que tenha sido, porque por causa deles alguma coisinha mudou no coração das pessoas" é ingenuidade.

    -

    E isso pra dizer que a passeata, em sua forma, reproduz a lógica do sistema. Por isso não acredito que a saída esteja nela.

    Também não estou dizendo que a saída do mundo está em fazer análise crítica. Só estou dizendo que a análise crítica. Ainda porque análise crítica não tem forma bem definida. Algumas são mais capazes do que outras. Assim como tudo no mundo, me perdoem.

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  28. Ok, não sabia disso que o Federowski falou, então me calo, pois não tenho como contra-argumentar...


    Agora, Boina, sinceramente, patético.
    Primeiro que você disse sim que o "pinto do Adorno era grande". Não exatamente com essas palavras, mas é a questão do falo na sociedade e a forma como você abordou isso foi um tanto machista. Depois, você não tem o direito de excluir ou elencar formas de expressão como melhores ou piores. É muito bonito, legal e tal, mas o ensaio só existe quando há quem leia, assim como a música só existe quando quem escuta, e a passeata só existe quanto tem gente na rua para saber. Adivinha qual é mais popular e atinge mais pessoas? Tudo bem, a música pode não se aprofundar tanto e a passeata pode ser baseada em palavras de ordens, mas são elas que tem mais poder de alcance.

    Para militantes de esquerda o interessante é que grande parte das pessoas tenham acesso ao que reivindicam e não que uma meia dúzia de gatos pingados que tem acesso a esse conteúdo leiam e aprendam. Isso acontece porque não há espaço nas mídias tradicionais para nós e precisamos de meios alternativos. Mas a crítica não deve excluir a passeata/música.

    Por último, é ridículo você diminuir a atuação do povo colocando o intelectual acima de todos e mais, desqualificando movimentos que lutam contra a opressão. É absurdo. Lenin acreditava que para ter a revolução socialista os intelectuais, os trabalhadores urbanos e os camponeses deviam estar em equilibrio. Não adianta nada eu ser radical do meu escritório e me achar melhor que quem está no campo. Assim como não adianta nada eu liderar um movimento chamando de pelego aqueles que estão teorizando a respeito. São coisas inseparáveis. Por isso que acho que o Beatle mais completo era Lennon e o melhor crítico da escola era Benjamin.

    E, btw, "qualquer mulher" também faz passeata. Qualquer oprimido. Não sei se fico mais indignada por ter esquecido da luta feminista ou por ter colocado esses movimentos sociais como pequenos ou bestas. (é isso que a palavra "qualquer" faz). De novo, não adianta nada eu defender uma causa atrás do meu computador. Se a sociedade nos oprime temos que sair na rua sim para mostrar que não vamos permitir.

    É uma questão de complemento: sem a vivência não há teoria.

    Se você não é capaz de fazer as duas coisas não significa que é péssimo. O que te torna patético é a idéia de superioridade. Nós (falo nós, pois todos somos estudantes) não somos escolhidos ou o que quer que seja por estarmos em uma universidade. Somos privilegiados, sim, mas isso não nos torna melhores que ninguém. O Movimento Estudantil, por exemplo, não é melhor que o MST.

    Aliás, seu comentário mostra um total desconhecimento a respeito dos movimentos sociais. A maior parte deles possui congressos periódicos que tira diretrizes de atuação. Nesses congressos são apresentadas teses. É isso ai, ninguém faz só passeatas e ninguém faz só críticas ao mundo. As duas coisas caminham lado a lado.

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  29. "É uma questão de complemento: sem a vivência não há teoria"

    Eu concordo plenamente, e nunca disse o contrário.

    --

    "E isso pra dizer que a passeata, em sua forma, reproduz a lógica do sistema. Por isso não acredito que a saída esteja nela.

    Também não estou dizendo que a saída do mundo está em fazer análise crítica. Ainda porque análise crítica não tem forma bem definida. Algumas são mais capazes do que outras. Assim como tudo no mundo, me perdoem. "

    --

    Não estou dizendo que o sistema só é combatível no nível da abstração, muito pelo contrário.
    Só estou dizendo que a passeata não dá conta do combate no nível material, na minha opinião.

    Não precisa de tanto drama, é só uma opinião.
    Você está criticando coisas que eu nunca disse.

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  30. /nemli

    Mas Gandhi é waaaaaaaaaaaay mais foda que Adorno.
    Nem é discutível isso haha

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  31. Tá, agora fui ler.
    Só pra constar que não encarei como pessoal, mas sim postei aquilo pra provocar o Boina, insinuando que alguém ARGUMENTA melhor que ele - e continuo achando - porque eu realmente gosto quando alguém o enfrenta em discussões com Adorno haha.

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  32. Não, boina, imagina... Realmente, estou criticando coisas que você nunca disse...

    "Agora, se você acha que fazer passeata tem tanto valor quanto fazer crítica, vá enfrente. Mas quem te convida a olhar pro mundo agora sou eu. Porque passeata qualquer ativistazinho do meio ambiente, homossexual, negro, sem-teto faz."

    Por favor, né... Não somos idiotas.

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  33. Oras, eu disse dessa maneira primeiro porque a passeata foi popularizada e banalizada, logo qualquer um faz; e segundo porque não acredito em sua capacidade crítica, dado que ela mais reproduz segmentação cultural do que realiza um enfrentamento político.

    Sim, o meu tom foi pejorativo, mas isso não implica dizer que a passeata nunca teve forma crítica. Também não implica dizer que o enfrentamento na abstração tem mais valor que o no mundo material. E muito menos implica dizer que a abstração esteja emancipada da vivência.

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  34. Povo, tava lendo os comentários, e gostaria de falar duas coisas:
    1a- Que tal vocês pararem de ficar discutindo discutindo e discutindo, falando que o sistema é uma merda, que o capitalismo engole tudo, que vocês são intelectuais fodões que gostam de intelectuais fodões, falando que seus intelectuais fodões são melhores do que so outros porque eles foram mais ou menos massificados?
    Sinceramente, não da pra vocÊs proporem alguma coisa diferente?
    Se ser a elite intelectual brasileira é ficar discutindo sem chegar a lugar nenhum, sendo que os problemas continuam aí sem solução, eu fico muito decepcionado.
    O Boina só fala que nada tem valor de crítica, menos alguns poucos.
    A Paula fica nessa retórica de esquerda que gira gira e não chega a lugar nenhum.
    O Tuka não consegue ter uma ideia formada para defender ficando entre provocações e referências.
    No final vocês analisaram milhões de coisas e não chgaram a lugar nenhum.
    Não é meu objetivo participar ativamente dessa discussão, ams espero que ela melhore de nível em favor do futuro da intelectualidade brasileira.
    Respeitosamente (mesmoq ue não pareça nem um pouco).
    Bina

    (se alguem s perguntar qual a segunda coisa, ela é simples:

    Qual é o problema de gostar de uma canção alienada raios?!?! porra se você gosta, problea seu.

    Eu gosto de Roberto Carlos, Beatles, films da disney entre outras coisas. E vou continuar gostando, independente delas serem criticas ou não. Abaixo a ditadura da crítica).

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  35. Agora relendo fico triste que a discussão tenha terminado com esse comentário besta.

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  36. Eu crucifico o primeiro imbecil que tentar ressuscitar essa discussão

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  37. Gosto de Beatles, Roberto Carlos, filmes da Disney e sou fã do Bina. E tenho dito.

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