quarta-feira, 23 de junho de 2010

Toy Story 3: Como Não Tratar Crianças Como Idiotas

Pessoalmente, eu não sou o tipo de pessoa que costuma engolir aquela velha história de “a infância é o período mais lindo da sua vida”. Pode me chamar de insensível, mas não acho a coisa mais fofinha do mundo aqueles vídeos do YouTube em que um bebê faz algo idiota. Acho só idiota. Talvez por isso eu não me comova com histórias no modelo criança-inocente-faz-adulto-deprimido-se-lembrar-de-como-a-vida-é-bela. Em geral, eu torço para que a criança envolvida acabe num orfanato ou algo do gênero. É, pensando bem, talvez eu seja mesmo meio insensível.

Levando isso em conta, era de se esperar que assistir a Toy Story 3 não fosse uma experiência exatamente agradável para mim. Para quem não viu os primeiros (e desculpem-me, mas não teve infância) ou não sabe do que esse novo filme se trata: a série gira em torno do garoto Andy e de seus brinquedos, que criam vida quando ele não está olhando. No terceiro volume, que se passa alguns anos após os dois primeiros, Andy tem 17 anos, vai para a faculdade e tem de decidir o que fazer com os brinquedos que lhe restaram: ele pode doá-los a uma creche, guardá-los no sótão ou jogá-los fora. Tente imaginar algum jeito em que isso não signifique duas horas de “no fundo no fundo todos têm uma criança interior”. Pois é. De alguma maneira absurda, a verdade é que o filme passa bem longe disso.

Quer dizer, é óbvio que há no filme a obrigatória moral politicamente correta - afinal, não seria um filme da Pixar se não houvesse. E, querendo ou não, por mais alternativos e cultos que queiramos parecer, o happy ending nos toca mais do que qualquer final triste (e intelectual) tocaria. O grande trunfo do filme é que, entre o subtexto moralista e as imagens fofinhas, há muito mais. Ao contrário da grande maioria dos filmes hollywoodianos destinados a crianças – que em geral definem-se como infantis simplesmente por tratar seu público como idiota - Toy Story 3 aborda questões universais de uma óptica infantil. E, ainda que isso soe como uma tentativa forçada de aproximação com o público, funciona maravilhosamente.


Numa das primeiras cenas do filme, por exemplo, é apresentada uma escolha ao cowboy Woody. Andy havia decidido levá-lo para a faculdade, escondido entre seus pertences, e guardar os outros brinquedos no sótão. Por um acidente, entretanto, todos eles acabam sendo levados para a creche Sunnyside, onde seriam motivo de divertimento para todas as crianças que a frequentam todos os dias. Enquanto a maioria dos bonecos espera ansiosamente para divertir-se como não se divertiam desde que Andy passara da idade de brincar com eles, Woody decide fugir de lá, já que ele pertence ao garoto e é seu dever manter-se a seu lado. O astronauta Buzz Lightyear, então, tenta dissuadi-lo, argumentando que Andy já crescera e eles seriam muito mais úteis em seu novo lar. Como lidar com a sensação de que não se é mais necessário? Quando é o momento de abrir mão de algo que já dura tanto tempo?

Isso sem contar referências ao inferno católico e uma boneca Barbie que cita quase palavra por palavra John Locke, tudo esparramado sobre uma camada imensa de humor. E não o tipo de humor que costumamos ver associados a crianças. Ao contrário do humor da Dreamworks, que parece talhado em pedaços para cada faixa etária (o Burro, em Shrek, canta "On the Road Again", uma referência claramente adulta, e faz trocadilhos dos mais infantis), a Pixar joga com idéias que soam engraçadas tanto a um recém-alfabetizado quanto a um adolescente, de maneiras extremamente refinadas e sutis. Por exemplo, com expressões à la Chaplin. Ou até mesmo – de modo menos apropriado aos adjetivos – com um insulto direcionado a um boneco Ken (“seu metrossexual de plástico!”). Só, em nenhum momento, apela para idiotismos. Ele respeita demais o seu público para isso.

Talvez a minha insensibilidade seja, na verdade, uma reação à maneira como a maior parte dos filmes infantis de hoje têm tratado sua audiência. Pelo sim ou pelo não, posso dizer com certeza que Toy Story 3 não está incluído nessa grande maioria: é um filme inteligente, engraçado, e, principalmente, extremamente tocante. A verdade é que crescemos ao lado de Andy, e esse último volume é um adeus perfeito aos personagens que nos acompanharam durante anos. Mais uma vez, a Pixar se superou.

14 comentários:

  1. Gostei muito do filme também. Penso que o maior mérito da Pixar é o de conferir universalidade a um gênero(animação)geralmente associado exclusivamente a certo público, certo contexto e certos temas.
    A cena final é uma metáfora clichê sobre equilibrar perdas e ganhos no duro processo de crescimento. Mas como um clichê corretamente aplicado funciona bem às vezes. A identificação foi imediata e poucos filmes me deixaram com esse travo nostálgico na garganta ao fim.

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  2. Ah
    A propósito...disse o óbvio e esqueci do principal
    eu gostei do texto... traduz o que eu penso sobre o filme ( e que eu inutilmente repeti no ultim comentario...). Enfim...como é a primeira vez que comento... só para registrar: ja disse mil vezes, mas curto muito o trabalho de vocês

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  3. Uhum...yeep , yep, yep,yep...

    Cresci com o Andy tenho a idade dele tenho alguns dos bonecos dele (Wody,Buzz,Potato Head,Soldados,...)

    ae o fim da leitura fiquei pensando q vc tava querndo detonar o filme... mas vc acabou com uma frase q e mesmo postei em varios lugares

    Mais uma vez, a Pixar se superou.

    Exelente...gostei do texto...só isso ja basta.

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  4. Que filme!

    Concordo com tudinho que foi dito no texto e aqui nos comentários. A Pixar tem essa habilidade de "conferir universalidade" aos filmes que ela faz.

    Eu sou completamente fã da série e confesso ter ficado com muito receio desse terceiro filme.
    Mas a Pixar nunca fracassou, não seria agora.
    Sabendo que a (teórica) maior parte do público de Toy Story 1/2 cresceu, ela conseguiu fazer um filme que agrada não só esse público, como também a nova geração.

    Foi um adeus. Eu sei. Ou um "adeus perfeito", como você disse. Mas no fundo, no fundo, como o próprio Andy disse: "O Woody nunca te abandona!"

    Toy Story é para sempre. =)

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  5. "Isso não é voar, isso é cair, com estilo"

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  6. Então, eu ainda não vi Toy Story 3 porque certas pessoas ficam, como diz um amigo ai, "miando o rolê" ...
    Mas é Toy Story e é da Pixar...isso já é mais do que suficiente ;)

    Fed, você é você! E eu nem gostei tanto desse seu texto, mas você ainda tem créditos para mais 25 textos não-bons!

    Com carinho, caindo com estilo (hahahaha)...

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. john lasseter, o diretor do toy story 1 e 2 nos especiais do dvd de 10 anos do toy story 1 junto com os otros 3 ke criaram o filme fala "toy story realmente provou ke eh possivel entreter criancas e adultos".....
    logico ke eh um filme infantil, plos brinkedos, etc, mas no fundo esse toy story 3 eh um filme de adultos, nao de criancas....

    nos tinhamos +- a idade do andy qdo o primeiro foi lancado, e hj temos +- a idade dele ao ir pra faculdade, e todos jah passamos por isso, ter ke lidar com os brinkedos antigos, ter ke doa-los, guarda-los, joga-los fora, e meu eh nesse momento ke vc comeca a lembrar de qdo ganhou akele brinkedo, do qto vc brincou com ele, das brincadeiras ke vc fazia, e de fato dos momentos ke vc passou com ele....e eh foda realmente lidar com isso, algo pra criancas crescidas como nos....

    realmente eu chorei na cena final qdo vi, por varias razoes, por eu ter crescido com esse filme, de ser o ke eu mais gosto junto com rei leao 1, e pq ver o woody dizendo "adeus amigo" qdo o andy vai embora puta merda, nao tem como nao xorar....axo ke se pah esse foi o melhor do 3 toy story, e na moral, a "trilogia" do story eh animal!!!!


    PARA SEMPRE, AO INFINITO E ALEM!!!!!
    hail pixar e john lasseter, hail DISNEY (bons filmes: rei leao, toy story, corcunda, bela & fera, mogli, pocahontas....nada de bostas como mulan, etc, enfim, os filmes mais recentes....filmes da epoca ke a disney ainda lancava os filmes em VHS, dai sim sao filmes bons!!!!)

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  9. to com o gui que rei leão 1 é top, mas puta, não por aladim e peter pan....Alem disso mulan ate que é decente e wall-e e procurando nemo são divertidos.
    Enfim, no cerne to com ele, 1° rei leão, 2° toy story, 3° bela e a fera

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  10. MEU DEUS, MEU DEUS, MEU DEUS !

    COMO ASSIM, ninguém disse Monstros S.A. ???????
    E o mike wazowski e mimimi???????

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  11. sao filmes "legais", monstros s.a, procurando nemo, etc, mas nao dah pra compara-los com toy story, rei leao 1 (o 2 eh ruim, o 3 eh engracado), corcunda, bela & fera, pocahontas, mogli e nao vamos eskecer tbm de 101 dalmatas (ainda em desenho), ke tbm eh genial.......

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  12. ow, eu chorei muito vendo monstros s.a.! ainda não vi toy story 3 (nem o 1 ou o 2, pra falar a verdade... mas não venham falar que eu não tive infância, já ouvi isso mais do que o suficiente), mas sinto que vou me matar de chorar... hahaha

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  13. gostei do texto bruninho! aliás, daqui a pouco é o meu aniversário e eu quero uma casa dos sonhos do ken.

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  14. Gostei do texto. Podia comentar um pouco mais sobre as referências do filme. Gostei da reflexão, também.

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