quarta-feira, 10 de novembro de 2010

The name is Crass, not Clash

Crass é uma daquelas bandas que, só pela sua história, deveriam estar nessas listas de “Esse Você Precisa Ouvir”, ou “Bandas Influentes do Século Passado”, ou algo do gênero, mas não estão. Se isso é uma tremenda injustiça ou não, não cabe a mim aqui julgar. O fato é que eles foram uma banda que tinha algo a dizer ao mundo: there is no authority but yourself.

Deixando de lado rótulos de punks ou anarquistas, o que se percebe logo de cara é que eles não são apenas uma voz enfurecida entre tantas outras. O grito de revolta está lá, mas, ao mesmo tempo, há um apelo para que se faça algo sobre a situação sobre a qual reclamavam. Pode parecer estranho, pois estamos acostumados a colocar do mesmo lado todos os revoltados contra o sistema, mas há muita maturidade em how does it feel to be the mother of a thousand dead?, muito mais do que “I get pissed, destroy”. Não estou tentando desmerecer os Sex Pistols, mas os motivos pelos quais eles são reconhecidos são outros além da sua hipocrisia.

Ao contrário de bandas comerciais numa época marcada pela irreverência, o Crass se destaca por viver o que dizia. Em uma entrevista para o documentário “There Is No Authority But Yourself” (2006), Penny Rimbaud, baterista e um dos fundadores da banda, diz que eles viviam (e ainda vivem) pobres, apesar do lucro gerado. “Quando saíamos em turnê, nunca ficávamos em hotéis, simplesmente pedíamos às pessoas se tinham algum lugar onde poderíamos dormir. Pegávamos o suficiente para a gasolina e para comer e o restante ia direto para alguma organização local, ou uma banda que precisasse de um amplificador, ou algo parecido.”

Apesar dos seus esforços em serem fiéis às suas idéias e à mensagem que divulgavam, isso não evitou que o símbolo do Crass fosse parar em camisetas de celebridades como David Beckham e Angelina Jolie. Além de ser completamente contraditório, não há nada que possa ser feito contra a comoditização do Crass. Como o próprio Rimbaud disse, essas pessoas são ricas, enquanto eles são pobres. Elas podem pagar por advogados, eles não. Mas deixa bem claro que eles nunca produziram mercadorias como camisetas relacionadas à sua imagem; em vez disso, incentivavam que cada um fizesse seu próprio estêncil, o que condiz com a cultura DIY.

Embora a banda tenha acabado há mais de 20 anos, eles ainda continuam ativos individualmente. Recentemente, foram lançados álbuns remasterizados – The Feeding Of The Five Thousand e Stations Of The Crass – para a coleção The Crassical Collections; e o terceiro da lista, Penis Envy, está previsto para sair ainda no mês de novembro. O relançamento causou polêmica, e Pete Wright, ex-baixista da banda, ameaçou levar o caso à justiça (o que, convenhamos, teria sido a maior ironia da história do Crass, que nunca foram, digamos, simpatizantes da realeza). Independentemente de querelas ideológicas, é uma ótima oportunidade para ouvir essa banda um tanto quanto esquecida apesar da atualidade da sua mensagem e da influência que exerceu no cenário anarcopunk.

Um comentário:

  1. Desculpa, mas o fato de você usar Crass como tema de um texto é tão nobre quanto a Angelina Jolie usar a camiseta da banda.

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