domingo, 14 de março de 2010

Música na geração Copy Paste

A música de Gregg Michael Gillis foi chamado pela The New York Times Magazine de “um processo legal esperando para acontecer”. Não que ele cante sobre temas polêmicos ou algo do gênero; ele simplesmente faz uso de gravações de outros artistas sem pedir permissão ou pagar royalties. Alguns diriam que é um exagero processá-lo por isso mas, bem, se há algum caso para o qual esse exagero é apropriado, é esse: as canções que Gillis grava sob o pseudônimo de Girl Talk baseiam-se unicamente em trechos surrupiados de outros artistas. Só nos dois minutos e quarenta segundos da faixa “Once Again” (o link abre para um 'guia dos samples' feito por um fã, no Youtube), que abre seu álbum de 2006, “Night Ripper”, fãs conseguiram identificar 19 samples, incluindo trechos de músicas do calibre de “Wonderwall”, do Oasis, “Foreplay/Long Time”, do Boston e “Bittersweet Symphony”, do the Verve (que, diga-se de passagem, já foi também alvo de polêmica a esse respeito). É quase um caça-palavras musical.

Exageros à parte, Gillis é só mais um exemplo de uma tendência que vem se solidificando ao longo das últimas décadas. Na década de 80, produtores de hip-hop elaboravam suas batidas a partir de clássicos do P-Funk; na década de 90, Beck Hansen cantava acompanhado por uma gravação acelerada da bateria de Charlie Watts, dos Stones, enquanto o flautista de acid jazz St. Germain solava ao som de A Tribe Called Quest; hoje, o que era exceção tornou-se padrão. Se no passado era natural que qualquer solista tomasse emprestados alguns licks de suas principais influências, agora é lugar-comum que todo músico, produtor ou DJ tenha em seu repertório algumas fatias de suas gravações preferidas às quais recorrer sempre que falta algo em uma composição.

Plágio? Alguns parecem pensar que sim. O número de desentendimentos legais ligados a questões de autoria nunca foi tão grande. A fronteira entre “cópia descarada” e “homenagem musical”, entretanto, tornou-se extremamente vaga: em seu primeiro álbum, por exemplo, o grupo francês Justice dá crédito a somente 3 samples, mas numa entrevista com a MTV canadense, um dos membros do duo admitiu ter usado trechos de mais de 300 álbuns em sua concepção. Em suas palavras: “nós usamos partes minúsculas que ninguém consegue reconhecer. [..] Nem mesmo 50 Cent iria perceber, mas se você ouvir ‘Genesis’, a primeira faixa do disco, ouvirá samples de Slipknot, Queen e 50 Cent”. Cada vez mais a questão se afasta da esfera legal e se aproxima da esfera artística: colagens musicais são uma forma de arte?

Por enquanto, essa pergunta segue sem resposta. Enquanto isso, torna-se cada vez mais raro ouvir uma canção completamente original. Isso é um problema? Ainda não é possível dizer. Só nos resta observar que a música atual atingiu um nível de antropofagia que nem mesmo Oswald de Andrade ou os tropicalistas conseguiram imaginar. E, claro, aproveitar esse universo cada vez mais fértil de intertextualidade musical.

2 comentários:

  1. Bom Fed, reli o texto e aqui vai a opinião prometida (não leve a mal, o amor é o mesmo, mas prefiro falar a verdade a ficar puxando o saco)

    Cara, o tema é interessante, os exemplos bem dados, tudo esta aparentemente certo, porém eu leio e não consigo curtir o texto, aopensar um pouco sobre oa ssunto acho que cheguei a uma conclusão que você pode (e talvez deva) encarar como um elogio: o texto é um exemplo de texto publicado em jornais.
    Você deve ficar feliz com isso, afinal esa será a sua profissão, mas talvez isso tire o charme de buscar textos em fontes "alternativas", como um blog como esse.
    Se você pensou no texto como profisional está muito bom.
    Se você pensou no texto como algo mais informal, acho que errou um pouco na mão.
    Obrigado e continue escrevendo!
    Bina

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  2. Só porque o bina comentou, vou aproveitar e dar um piteco: o tema está interessante, o texto não. Falta opinião e falta relacionar o tema com questões não musicais.

    Humildemente.

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