quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O PTTP vai a Itu - SWU Music and Arts Festival

O Pop To The People não podia deixar de falar do evento que aconteceu nos dias 9, 10 e 11 de Outubro, no interior de São Paulo: o SWU - Music and Arts Festival. No texto de hoje, nossos repórteres especiais enviados a Itu - Bruno Capelas e Dinha - e os colaboradores João Carlos Saran e Guilherme Bruniera trazem aqui comentários sobre os principais shows dos três dias de festival. Em breve também virá um texto sobre o festival como um todo - e até onde são levadas a sério suas propostas para o futuro (sustentabilidade, música e "um novo jeito de pensar e agir"). Boa leitura!

Os Mutantes – 09/10

A banda é lendária e influenciou gerações do rock nacional, mas o que deve ter passado pela cabeça de muita gente que foi ao interior de São Paulo sonhando com um Woodstock Brasileiro durante o show dos Mutantes foi certa amargura nostálgica. Primeiro: da formação original, só Sérgio Dias está no palco. Segundo: as roupas psicodélicas, os cortes de cabelo, os gritos de guerra, nada parecia emplacar. Em alguns momentos, porém, como nos clássicos “Baby” e “Balada do Louco”, a banda passou de simples documento histórico e conseguiu empolgar a platéia e fazê-la cantar junto. Prevalece o saudosismo: as canções do grupo paulistano cantam utopias de outro tempo. Antes o tom era de “vamos vencer”, hoje é de “parece que algo se perdeu”. O fim do show, com “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer”, evocou essa época – e deixou-me com dúvidas sobre o que era o famigerado SWU. Com certeza, entretanto, consigo dizer, que não era Woodstock. (João Carlos Saran)

Los Hermanos – 09/10

Não posso negar: em algum momento entre os 12 e os 15 anos, me tornei um fã dos Los Hermanos, com certa devoção cega. Era uma admiração que passava ao largo de qualquer mérito musical - era identificação mesmo: tanto com eles, quanto com o público que deles gostava. Dito isso, vamos ao show. Posando de "críticos da competitividade" de hoje em dia, acabaram por conquistar mais que fãs: fiéis de uma religião. E é difícil não recorrer a essa analogia batida quando se vê que, na Fazenda Maeda, Camelo e Amarante hipnotizaram seu público com recentes clássicos - como "Cara Estranho", "O Vencedor" e "Sentimental" - tal como encantadores de serpentes - levando público e artista a uma total sinergia. Ao fim de tudo, houve um tom de retorno, embora a banda continue a dizer que nada é definitivo. Adeptos da melhor tradição religiosa, insistem em ressurreições periódicas. (JCS)

Rage Against the Machine – 09/10

O que esperar de um show de uma das bandas mais polêmicas do mundo? Polêmicas, ora essa! A primeira passagem do RATM pelo Brasil foi marcada por tumultos, suspensão de transmissões, falhas no som e muito empurra-empurra, que levou a alguns desmaios e medo por parte dos fãs de ataques a sua integridade física. Ainda assim, a banda conseguiu superar os imprevistos e deixou os fãs brasileiros satisfeitíssimos. No que já vem sendo chamada de "Batalha de Itu", o conjunto de Zack de la Rocha e Tom Morello desfilou clássicos e mais clássicos, como "Killing in the Name", "Bulls on Parade" e "Testify" suplantando até a sensação de coito interrompido da platéia com as sucessivas interrupções. Mais do que isso: foi o primeiro sinal de que o preço dos ingressos não fazia jus às estruturas técnica e física do festival. (Guilherme Bruniera)

Sublime With Rome - 10/10


Sobe a fumaça! Assim que Bud Gaugh (43), Eric Wilson (41) e Rome Ramirez (22) entraram em cena, percebe-se a euforia - natural ou não - do público. Tocando em um horário não muito cotado, a banda de ska/reggae foi vista por muita gente como principal atração e, diga-se de passagem, realmente foi. Em ambas as pistas notava-se a empolgação geral dos que permaneceram para assistir, até porque, por doze anos, seu público teve certeza de que não conseguiria ver uma performance, devido à morte do vocalista original antes do sucesso no Brasil. Em um show breve e faltando apenas duas músicas para completar o álbum Greatest Hits, a banda surpreendeu os que se dispuseram a conhecê-la. (Dinha)

Kings of Leon - 10/10

Em sua segunda visita ao Brasil, a última atração do segundo - e eclético - dia de festival, fez bonito. Já o seu público, nem tanto. Com um álbum recém lançado, o KoL preferiu dar ênfase ao terceiro e quarto discos, justamente os lançados após a primeira apresentação deles por aqui. Com a típica presença de palco de uma banda indie, a iluminação tradicional se destacou das demais compensando a falta de movimento. Porém, a interação do público foi pequena, com a saída de muitas pessoas antes do bis, e empolgação notável somente em três ou quatro hits. A causa pode ter sido justamente a grande heterogeneidade da audiência, pois o público que os recebeu superou a mega-atração do dia anterior, Rage Against The Machine. Seria portanto, mais uma prova da falha na distribuição das atrações pelos três dias. (Dinha)

Yo La Tengo - 11/10

Os dedos do meio levantados pelo público e o orgasmo guitarrístico que Ira Kaplan, líder e vocalista do trio Yo La Tengo, proposto à platéia ao final do show, servem como resumo da apresentação. Em um show curto - pouco menos de uma hora de duração - a banda explicou porque é tida como uma das baluartes do rock alternativo americano, especialmente no encerramento apoteótico - e barulhento - de "Pass the Hatchet, I Think I'm Goodkind", com direito a quebra voluntária das cordas da guitarra. O público, ávido pelo heavy metal que viria a seguir, clamando por "rock'n roll", não entendeu o show. Uma pena - pra um show que faria muito mais sentido em um lugar fechado, esfumaçado, e sem ficar espremido entre shows de headbangers de plantão, de preferência. (Bruno Capelas)

Queens of the Stone Age - 11/10

Porrada. Se uma palavra fosse suficiente pra descrever um show, essa seria a história da passagem da banda de Josh Homme por Itu. A platéia, espremida - ainda mais com o inadmissível atraso de quase uma hora - pulou ensandecida assim que soaram as primeiras notas da dobradinha "Feel Good Hit of the Summer"/"The Lost Art of Keeping a Secret", do disco Rated R. Daí pra frente, foi só tijolada atrás de tijolada, cortesia de uma banda MUITO bem ajustada na cozinha e de um dos grandes guitarristas da década. Em meio a rodinhas de pogo e "sing alongs para o público" ("In My Head"), até o final apoteótico com o trio "Go With the Flow"/"No One Knows"/"A Song for the Dead", Josh Homme esbanjou simpatia e virtuosismo. Seria o melhor show da melhor noite do festival. Seria se não fosse... um casal de gordinhos. (BC)

Pixies – 11/10

Soa no mínimo improvável dizer que o melhor show do festival foi liderado por um gordo vestido de agasalho esportivo e capuz. Mais: por uma banda que teve seu auge criativo há vinte anos atrás – e que não tocava junta há uns três. Mas é a verdade. Na segunda passagem pelo Brasil, os Pixies levaram o público como ninguém: hit atrás de hit, em um repertório que privilegiou o seminal disco “Doolittle”, de 89 – 11 de suas 15 músicas foram tocadas na Fazenda Maeda – mas também deu destaque a pérolas esquecidas do conjunto, como “Dig For Fire”, “U-Mass” e “Planet Of Sound”. Kim Deal, a baixista, estava em noite inspirada: brincou com o público, ironizou o Linkin Park (“I’ll be sleeping right after my show”) e brilhou na sua “Gigantic”. Até o baterista David Lovering teve seu momento, com a romântica “La La Love You”. A alegre “Here Comes Your Man” fez o público dançar – mas foi a apocalíptica (vide “Clube da Luta”) “Where’s My Mind?” que levou o show para a estratosfera. Não sei onde estava a cabeça de Frank Black naquele naquele momento – mas a minha, com certeza, estava perto de um paraíso selvagem, sublime. (BC).

Crédito das Fotos: Liliane Callegari (Mutantes, Los Hermanos, RATM, QOTSA e Pixies), Bruno Capelas (Yo La Tengo), Fabrício Vianna (Kings of Leon) e Marina Coelho (Sublime With Rome)

8 comentários:

  1. Acho que o Noa não deveria escrever sobre o Pixies. Tudo bem que é opinativo isso daqui. Mas ainda assim me incomoda a presunção do início do texto. Só um ser onipresente e onisciente poderia ter assistido a todos os shows e ainda ter condições de fazer análises sobre qual foi o melhor de todos. Como nenhum texto aqui foi escrito por Deus, isso não ocorreu. Então o melhor show não foi só o Pixies. Foram todas as bandas.
    Pra mim foi Los Hermanos.
    Victor Ferreira

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  2. Apesar do tom meio pesado, to com o cara ai em cima, seu Noa, vc não devia ter escrito sobre os pixies, vc é muito adorador deles pra ser algo isento. Deixava esse texto prum blog só seu e dava pra alguém fazer esse texto.

    Ps: Nada como o profissionalismo ("nossos enviados especiais")

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  3. E o outro palco? Aquele que ia tocar Tulipa, Autoramas, Mombojó, etc etc etc?

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  4. Faltou falar de mais shows, como Mars Volta, Joss Stone, Regina Spektor, Incubus e até mesmo do Linkin Park.
    Faltou também imparcialidade no Pixies ,no Los Hermanos e no Queens of the Stone Age( Josh Homme virtuoso é sacanagem).

    No restante, os textos estão bons.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Tô com o Bina, e não abro ;)

    Hahahaha

    Com carinho.

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  7. Como vocês não cobriram a parte de tendas eletrônicas? Ponto negativo pro PTTP haha
    Eu queria ter lido uma avaliação sobre o show do MSTRKRFT e do Tiestö, embora eu não goste muito do segundo haha
    Abraço, continuem firmes.

    @df_low

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  8. Uma análise fria dos shows pode ser feita por qualquer um. Basta que se citem as musicas e mais alguns detalhes da estrutura e quantidade de pessoas presentes. Uma análise, no entanto, como a feita sobre Los Hermanos, nao se encontra aos montes. Parabéns, Joao Carlos.

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