É de praxe que, quando um cantor ex-voz da juventude decide se transformar numa figura experiente de meia-idade que aprecia a boa música e um bom vinho do porto, ele grave um CD composto dos clássicos do jazz, os famosos American standards. Rod Stewart o fez, Caetano Veloso o fez, Michael Bublé pulou a fase da juventude e começou logo como um cantor velho já com 20 anos. Não é surpresa, então, que Brian Wilson, ex-Beach Boy, que há muito se encaixa perfeitamente nessa categoria, tenha decidido oficializar a transição com o obrigatório disco de standards. Eis que surge Brian Wilson Reimagines Gershwin.
O que leva à pergunta: por que cargas d’água tantos cantores com mais de vinte anos de estrada decidem subitamente posar de Sinatra?
A resposta é, à primeira vista, simples: o público que ouvia surf rock nos anos 60 hoje está em seus 50 anos e, portanto, abandonou o bom e velho rock and roll em favor de estilos mais clássicos. Imagine então sua reação quando seus ídolos da juventude começarem a gravar material mais “sério”! Um argumento perfeito, exceto pelo fato de que por essa lógica, o público do futuro se deliciará ao som da versão da Lady Gaga de “Garota de Ipanema”. A verdade é um pouco mais complicada.
O problema é que certos estilos de música só fazem sentido em certos contextos. Continuando o processo de crucificação de Brian Wilson, vamos usá-lo novamente como exemplo: uma música como “Surfin’”, ou “Surfin’ Safari”, ou “Surfin’ U.S.A.”, ou qualquer um dos outros trilhões de hits dos Beach Boys com “surfin’” no nome, harmonias vocais e jeitinho de rockabilly. Pois bem, quando essas gravações foram lançadas, o rock and roll já tinha uma década de idade, e esses elementos representavam a interpretação californiana de tudo que tinha ocorrido nesses dez anos; não só refletiam perfeitamente o seu tempo, como eram inéditos – e tiravam sua força disso. Ouvir surf rock era quase uma escolha ideológica: era assumir-se como surfista do sul da California no auge de sua juventude.
Mas eis que se passaram quarenta anos e, nesse meio tempo, Tarantino adotou o surf rock como trilha sonora de cenas violentas e cheias de estilo, os Black Eyed Peas adotaram o surf rock como background de um de seus maiores hits e a série Family Guy adotou o surf rock como o cerne de uma das piadas mais repetidas do novo milênio. Ouvir aquelas canções hoje, depois de todo esse caminho trilhado, é algo completamente diferente do que era ouvi-las originalmente: ou tentamos nos colocar na pele daqueles ouvintes (que só podemos imaginar a partir das histórias de nossos pais e dos filmes de Hollywood) virgens de Tarantino, de Black Eyed Peas e de Family Guy; ou nos resignamos a ouvi-las com ouvidos do século XXI, para quem os títulos com “surfin’”, as harmonias vocais e o jeitinho de rockabilly se desgastaram.
Por isso Brian Wilson não pode gravar um disco à la Beach Boys hoje e esperar uma recepção idêntica. E, sabendo disso, ele se refugia naquilo que, aparentemente, venceu com mais facilidade o teste do tempo: os standards. Acontece que nada é assim tão simples. Em suas Cartas a um jovem poeta, Rilke aconselhou que seu interlocutor não escrevesse poemas de amor, pois é quase impossível escrever algo que já não tenha sido escrito em um dos inúmeros poemas já publicados sobre o assunto e ainda por cima expressá-lo melhor do que Shakespeare ou Camões. Da mesma maneira, é impossível ouvir “I Loves You Porgy” e não ser remetido à famosa versão de Nina Simone ou, ainda, ouvir “Summertime” e não compará-la com uma das inúmeras versões do clássico de Gershwin, seja a de Billie Holiday, a de Sidney Bechet ou a de Janis Joplin. Para que a nova gravação seja minimamente bem-sucedida, é preciso que ela não só seja notadamente diferente das que a precedem como também que as iguale ou supere em expressividade. E Brian Wilson Reinterprets Gershwin, por mais que tenha se esforçado para satisfazer a primeira condição, falha terrivelmente na segunda.
Mas canções de surf rock puro não foram a única coisa que Brian Wilson gravou em sua vida. Ouvir uma música como “God Only Knows” (que, surpresa!, não tem “surfin’” no nome), por exemplo, é uma experiência diferente. Não que ela não tenha tido um significado único por ter sido gravada em tal época e em tal lugar – é impossível fugir disso. Mas ela ganha força por motivos muito mais simples: principalmente pela beleza simples e honesta de sua melodia. E é bom lembrar, agora, que por mais vezes que a teoria musical tenha se revolucionado e expandido, melodias de Bach, de Cole Porter e de Paul McCartney são hoje tão belas quanto eram quando foram escritas. Como também são os standards cantados por Frank Sinatra.
Que é o que os sósias de Sinatra parecem não perceber quando escolhem temas consagrados como clássicos. Não basta simplesmente gravar “They Can’t Take That Away from Me” acompanhado de uma batida de surf rock: é preciso tornar a canção, mais uma vez, clássica no momento da gravação, o que pode ser feito tanto por um artista de trinta anos de estrada quanto por um jovem de 15 anos. E, principalmente, não reduzir sua platéia a uma equação previsível. Nós merecemos mais do que isso.
O que leva à pergunta: por que cargas d’água tantos cantores com mais de vinte anos de estrada decidem subitamente posar de Sinatra?
A resposta é, à primeira vista, simples: o público que ouvia surf rock nos anos 60 hoje está em seus 50 anos e, portanto, abandonou o bom e velho rock and roll em favor de estilos mais clássicos. Imagine então sua reação quando seus ídolos da juventude começarem a gravar material mais “sério”! Um argumento perfeito, exceto pelo fato de que por essa lógica, o público do futuro se deliciará ao som da versão da Lady Gaga de “Garota de Ipanema”. A verdade é um pouco mais complicada.
O problema é que certos estilos de música só fazem sentido em certos contextos. Continuando o processo de crucificação de Brian Wilson, vamos usá-lo novamente como exemplo: uma música como “Surfin’”, ou “Surfin’ Safari”, ou “Surfin’ U.S.A.”, ou qualquer um dos outros trilhões de hits dos Beach Boys com “surfin’” no nome, harmonias vocais e jeitinho de rockabilly. Pois bem, quando essas gravações foram lançadas, o rock and roll já tinha uma década de idade, e esses elementos representavam a interpretação californiana de tudo que tinha ocorrido nesses dez anos; não só refletiam perfeitamente o seu tempo, como eram inéditos – e tiravam sua força disso. Ouvir surf rock era quase uma escolha ideológica: era assumir-se como surfista do sul da California no auge de sua juventude.
Mas eis que se passaram quarenta anos e, nesse meio tempo, Tarantino adotou o surf rock como trilha sonora de cenas violentas e cheias de estilo, os Black Eyed Peas adotaram o surf rock como background de um de seus maiores hits e a série Family Guy adotou o surf rock como o cerne de uma das piadas mais repetidas do novo milênio. Ouvir aquelas canções hoje, depois de todo esse caminho trilhado, é algo completamente diferente do que era ouvi-las originalmente: ou tentamos nos colocar na pele daqueles ouvintes (que só podemos imaginar a partir das histórias de nossos pais e dos filmes de Hollywood) virgens de Tarantino, de Black Eyed Peas e de Family Guy; ou nos resignamos a ouvi-las com ouvidos do século XXI, para quem os títulos com “surfin’”, as harmonias vocais e o jeitinho de rockabilly se desgastaram.
Por isso Brian Wilson não pode gravar um disco à la Beach Boys hoje e esperar uma recepção idêntica. E, sabendo disso, ele se refugia naquilo que, aparentemente, venceu com mais facilidade o teste do tempo: os standards. Acontece que nada é assim tão simples. Em suas Cartas a um jovem poeta, Rilke aconselhou que seu interlocutor não escrevesse poemas de amor, pois é quase impossível escrever algo que já não tenha sido escrito em um dos inúmeros poemas já publicados sobre o assunto e ainda por cima expressá-lo melhor do que Shakespeare ou Camões. Da mesma maneira, é impossível ouvir “I Loves You Porgy” e não ser remetido à famosa versão de Nina Simone ou, ainda, ouvir “Summertime” e não compará-la com uma das inúmeras versões do clássico de Gershwin, seja a de Billie Holiday, a de Sidney Bechet ou a de Janis Joplin. Para que a nova gravação seja minimamente bem-sucedida, é preciso que ela não só seja notadamente diferente das que a precedem como também que as iguale ou supere em expressividade. E Brian Wilson Reinterprets Gershwin, por mais que tenha se esforçado para satisfazer a primeira condição, falha terrivelmente na segunda.
Mas canções de surf rock puro não foram a única coisa que Brian Wilson gravou em sua vida. Ouvir uma música como “God Only Knows” (que, surpresa!, não tem “surfin’” no nome), por exemplo, é uma experiência diferente. Não que ela não tenha tido um significado único por ter sido gravada em tal época e em tal lugar – é impossível fugir disso. Mas ela ganha força por motivos muito mais simples: principalmente pela beleza simples e honesta de sua melodia. E é bom lembrar, agora, que por mais vezes que a teoria musical tenha se revolucionado e expandido, melodias de Bach, de Cole Porter e de Paul McCartney são hoje tão belas quanto eram quando foram escritas. Como também são os standards cantados por Frank Sinatra.
Que é o que os sósias de Sinatra parecem não perceber quando escolhem temas consagrados como clássicos. Não basta simplesmente gravar “They Can’t Take That Away from Me” acompanhado de uma batida de surf rock: é preciso tornar a canção, mais uma vez, clássica no momento da gravação, o que pode ser feito tanto por um artista de trinta anos de estrada quanto por um jovem de 15 anos. E, principalmente, não reduzir sua platéia a uma equação previsível. Nós merecemos mais do que isso.
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ResponderExcluirFederowski deixou claro que não conhece a obra de Brian Wilson,
devia pesquisar um pouco sobre a música dos Beach Boys
ao invés de cair no estereótipo fácil e duvidoso de "surf rock".
A banda teve não mais do que uma breve fase de bem no início de carreira,
e logo Brian Wilson começou a mostrar outras influências suas,
como a do próprio Gershwin.
Ainda nos anos 60 Brian Wilson deixou o rock de lado,
em busca de sonoridades e estilos mais clássicos, vide o album "Pet Sounds",
de modo que este seu lançamento agora nada tem de estranho.
Muito pelo contrário,
em se tratando de Brian Wilson,
nada mais NATURAL do que um disco de releituras da obra de Gershwin.
Não é à tôa que ele pode finalizar duas
das canções de Gershwin, devidamente autorizado
pelos herdeiros.
Isso, Federowski, não foi por acaso não....
Faz muito sentido.
Mais do que o vago estereótipo de "surf rock" nos sugere....
.
De fato, o papel e a internet aceitam tudo.
ResponderExcluirPelo jeito o autor deve ouvir o novo disco de
Brian com mais atenção e menos preconceito.
Engana-se o autor ao dizer, de modo indireto,
que Brian apelou para os standards para apresentar novidade.
Ele - Brian - o faz anualmente com novos lançamentos anuais, sempre de muito bom nível.
Brian está bem acima dessa pálida percepção do
autor. Tanto assim que pode finalizar duas
das canções de Gershwin, devidamente autorizado
pelos herdeiros. E o fez com enorme competência
como se observa ao ouvi-las.
Bem visível que o autor ouviu superficialmente
o novo disco.
Bem visível, também que tem visão estereotipada
das músicas compostas pelo beach boy. Pelo que se
lê, para o autor a palavra "surfin" esteve
presente em toda trajetória de Brian.
Certamente não foi Brian que permaneceu na fase
surf. Foi o autor.
Um texto avsolutamente superficial, que deixa claro que o autor se baseou em seus preconceitos sobre música pop para escrevê-lo. Ficou claro que não conhece a obra de Brian Wilson e dos Beach Boys, e se conhece um pouco mais do que as poucas músicas que citou , não tem musicalidade para absorver a rica gama de informações musicais que um simples clássico como "California Girls" já tem embutido , em sua melodia, sua harmonia, arranjo .
ResponderExcluirBrian Wilson é como um herdeiro da linhagem de Gershwin, um legítimo representante da canção americana , e não interessa se fez rockn´roll ou "surf rock" no início de carreira . Essa era simplesmente a mais forte influ~encia para um jovem aspirante a músico em meados dos anos 50.
Mas Wilson já em 1965 , por exemplo, podia assombrar o mundo com a beleza erudito-jazzistica de um número próprio a capella como "And Your Dreams Come True" , música que por sis só, já desmente todas as linhas do equivocado texto acima.
Segura a onda ai gente (afinal, perdemos tudo, menos a piada)...
ResponderExcluirEu entendo op lado do autor também...
Que Brian Wilson é um clássico não se discute, assim como não se discute sua importância, agora o uso do exageiro em relação a fase surf rock foi um mero recurso. A questão aqui é que lançar discos de reinterpretações realmente é uma fórmula desgastada, mesmo se tratando de seus ídolos e tudo o mais.
O disco pode até ser interessante, mas o fato é que não apresenta nada de muito novo.
Se vocês são fans de Brian Wilson e gostaram do disco, beleza, eu até hopje ouço os discos de regravações do Clapton, mas não o considero um gênio por causa desses discos.
Por mais que o autor cometa alguns excessos, devemos discutir o cerne da questão, não ficar repetindo o óbvio, que é a importância de Brian para a música mundial.
Não concordo com tudo que foi dito, mas entendo também o lado do autor.
Bina,
ResponderExcluirPossivelmente vc, como o autor da crítica, tenha
ouvido o novo disco de Brian enquanto preparava
uma café novo. Não é assim que se deve ouvir
um disco como esse.
Não é possível que não tenha ouvido "nada de
novo" (!)
Desde a introdução com os vocais de Brian
(que resurgem ao final fechando o disco), passando pelas duas canções inacabadas de Gershwin (onde começa a contribuição de Brian em ambas?), tudo tem um fio condutor bem original.
Ou será que não percebeu solos de celo unindo
canções, bem como outros "rabichos sonoros"
permeando várias canções?!
Se fôssemos entrar no mérido dos arranjos
(sofisticados, profissionais, criativos) precisaríamos de muito mais espaço.
Não estamos aqui para defender cegamente o que
Brian produz. Já houve ocasiões em que novos
lançamentos dele (que acontecem anualmente)
receberam severas críticas na comunidade The
Beach Boys no Orkut a qual integramos.
Colocar Brian ao lado de Rod Stewart ou Frank Sinatra, por exemplo, é querer comparar trajetórias absolutamente diversas desses artistas. Nada a ver entre si.
Ficou evidente que o autor não tem a menor
ideia de quem é realmente Brian Wilson e da sua
obra que vem desde os Beach Boys há 50 anos.
Ao contrário do disco, falta substância na
avaliação do Federovski.
O blog tem uma política de não comentar os próprios textos, mas, levando em conta o rumo que essa discussão tomou, acho que eu devo abrir uma exceção e publicar uma resposta.
ResponderExcluirAntes de tudo, é bom lembrar que esse não é um texto sobre o Brian Wilson. Ele usa o disco novo dele pra discutir algo maior (e mais importante, eu acho), que é, como está escrito no próprio texto, que "certos estilos de música só fazem sentido em certos contextos" e, por isso não me aprofundei na discussão de se o Brian Wilson Reimagines Gershwin é um bom disco ou não. Eu sei que no orkut a propaganda o colocava como um texto sobre o Brian Wilson, mas me desculpem, isso está errado.
Discutir isso na abstração seria uma coisa acadêmica, então eu resolvi usar alguém como exemplo. Escolhi o Brian Wilson porque: 1) O disco dele é um disco recente, e, portanto, uma pauta fresca; 2) Eu sempre vi na obra dele essa polarização entre algumas composições bem pontuais, bem temporais (que, como está no texto, faziam um sentido antigamente e fazem outro sentido hoje. E, é bom lembrar, isso não é um insulto), como as canções de surf rock, e as composições mais, ahn, [palavra inadequada] "universais"], como o Pet Sounds, "Good Vibrations" e o próprio Smile.
Levando em conta que ninguém levantou o que eu acho que é o cerne do texto, acho que ele não deu muito certo ;) Mas, como vcs se ateram bastante a uma avaliação do álbum, vamos lá, algumas respostas aos argumentos de vocês:
Eu não vejo problema em gravar um disco de standards. E sim, concordo que faz muito sentido o Brian Wilson gravar um álbum de músicas do Gershwin. O que me incomoda é a maneira como ele o fez.
ResponderExcluirVocês falaram bastante dos arranjos. Pois bem, a big-band/pseudo-orquestra do disco é - analisando pelo que eu estudei de arranjo e história da música - basicamente uma mistura da big-band que a gente hoje chama de tradicional (e que, eu diria, é basicamente a big-band do Woody Herman no final dos anos 70), as orquestras de música pop (tipo Paul Whiteman ou os orquestras que acompanhavam o Sinatra, o Bing Crosby, o Mel Tormé, o Tony Bennett e todos os outros infinitos crooners) e um elemento que tá lá só pra dar uma falsa individualidade (tipo a batida da "They Can't Take That Away from Me" ou da "I Got Rhythm"). E essa fórmula e, com ela, os solos de cello pra unir as músicas e os "rabichos" musicais, estão EXTREMAMENTE desgastados. É só ouvir, sei lá, Michael Bublé, Diana Krall, os discos de standard da Natalie Cole ou qualquer um dos pseudo-crooners de agora. Não só isso, esses três componentes são bem fáceis de separar e identificar - o que só colabora pra fazer com que isso pareça manufaturado e industrializado.
Em comparação, algumas big bands que soam modernas: a da Maria Schneider e a do Sun Ra me vêm à mente. Nos afastando do jazz, alguns arranjos atuais que são bem individuais: a maior parte do que o Owen Pallett escreveu (tipo os arranjos pro Arcade Fire ou pro Grizzly Bear) e o disco novo do Sufjan Stevens. Não que seja necessário revolucionar toda a história do arranjo. A E Street Band do Bruce Springsteen nunca fez isso mas é bem óbvio que eles têm um som próprio e individual. É só ter um som que realmente soe como expressão pessoal, e não como um apunhado de clichês.
Agora, mudando de assunto: eu não vejo o Brian Wilson confortável com esse material. O que é uma opinião pessoal, mas que é citado, por exemplo, na resenha do popmatters. Tanto pela voz dele, que não é lá a melhor voz do mundo (antes de me darem um tiro, por favor, entendam, isso é de um ponto de vista puramente técnico), quanto pela própria interpretação. É só pegar o Real Book e comparar com as partituras ou com qualquer outra versão desses clássicos (como as que estão linkadas no próprio texto) pra perceber que ele fica muito rígido. Mas, de novo, essa parte é bem subjetiva: há quem goste disso. Eu, pessoalmente, detesto.
PS: desculpem pela quantidade imensa de exemplos, vocês reclamaram de falta de substância e profundidade, eu tentei melhorar isso.
Vê-se que o autor conhece muito pouco da obra do gênio Brian Wilson e dos Beach Boys.
ResponderExcluirFederowski
ResponderExcluirÉ cara, de fato você pecou feio neste texto, mas muito feio mesmo. Até respeito sua opinião quanto à regravação de clássicos de jazz etc e tal, mesmo não lembrando da qualidade e técnica destas regravações.
Se tratando deste disco de Brian, as coisas mudam, e, como Eric disse acima, já explica bastante. Para se avaliar algo assim, precisa de tempo e espaço para não se perder na superficialidade e injustiça para com um artista como Brian Wilson ou Beach Boys.
Para se falar de Beach Boys, é necessário primeiro conhecer suas raízes e sua rica discografia.
O jazz sempre fez parte dos Beach Boys, desde a fase surf, e em 1964 (isso mesmo, 1964), o grupo lançou um album natalino quase inteiro de jazz, com regravações bem feitas.
Para quem não conhece o surf rock ou o rock instrumental, estilos revolucionários em experimentalismo no fim dos anos 50 e primeira metade dos anos 60, foram ALICERCES para o blues-rock e para os Beatles. Mas isso não é falado nas grandes matérias, principalmente aqui no Brasil.
Não foram trilhões de músicas com o nome surf como você mencionou sobre Beach Boys, muito pelo contrário. Beach Boys foi surf music até no seu terceiro disco, que vai até 1963..Surfer Girl, um disco inovador para o rock na época ao lado de Phil Spector (grande influencia de Brian) com violinos, percussões, melodias e harmonias jazzificadas. Musicalmente o grupo carregou o estilo como forte influencia até 1964...
Não, não vamos cometer mais uma injustiça na história da música. Foi o surf rock, através dos Beach Boys, um GRANDE alicerce para o pop sofisticado (um pop que teve sua definição em 1965 tendo como frente os próprios BEACH BOYS),rock psicodélico e art rock em geral.
Falam do Rubber Soul dos Beatles (um disco que eu adoro) lançado no finalzinho de 1965 como um pioneiro em maturidade, mas, são os discos de 1965 dos Beach Boys lançados antes até que o Help, que contém grande sofisticação musical em termos experimentais e melódicos. Aliás, são bem mais sofisticados e experimentais que o Rubber Soul.
1966 o Pet Sounds, o grande INICIO de uma nova era do rock, abrindo caminhos definitivos para a música psicodélica, recentemente considerado o primeiro álbum para o desenvolvimento da musica progressista, sendo que foi lançado antes do Freak Out do Zappa.
Não meus amigos, sem ver superficialmente, mas tecnicamente, o Smiley Smile é um puta álbum, e mesmo com a saída de Brian Wilson, o grupo lançou OBRAS PRIMAS até 1973. Pena que esta fase é injustiçada por fansocas dos Beatles que odeiam Beach Boys e amam Brian Wilson....
Mas lembrando ao comentário sobre a honestidade e simplicidade de God Only Knows, vai muito mais além. Esta canção é feita inteira sob uma melodia de "tons relativos", mostrando uma complexidade a nível erudito. Sinceramente, não só esta canção, mas várias do Pet Sounds....E varias desde o período curto da fase surf, as melodias já atingiam um patamar de maturidade incrivel.
Me desculpem os fãs de MacCartney ou Beatles (eu também sou um fã), mas não lembro de uma música se quer dos Beatles com tamanha complexidade melódica como a dos Beach Boys!
Abraço, e obrigado por ceder este espaço para comentar. Assim aprendemos, sempre....
Ass: Tiago
Federowski
ResponderExcluirEmbora não tenha concordado com sua análise elogiei sua iniciativa de postar o texto na comunidade dos Beach Boys, pois mesmo discordantes, uma discussão com essa enriquece a todos. Sou fão dos BBs e particularmente de Brian Wilson. Pela sua história musical e principalmente, pela sua própria história de vida, ele seria o ultimo a lançar mão de uma estratégia puramente comercial para fazer um novo disco, daí não concordar com o cerne de sua discussão, que trata do oportunismo em regravar obras consideradas "clássicas" ou como você chamou "standards" para consolidar ou gabaritar sua carreira.
Outro ponto no qual discordo completamente é em relação à banda que acompanha Brian. Se você analisar alguns de seus componentes mais profundamente verá sua sólida formação musical e o caráter inovador de muitos deles, não entendendo sua particiapação como apenas esquemática e convencional, mas sim adequada a um musico com mais de 50 anos de carreira e com uma história bastante sólida em termos de inovação musical.
Quanto aos comentários sobre a voz de Brian, sua voz atual pode ser considerada até muito boa para um quase septuagenário e quisera que os componentes de algumas bandas que você citou consigam manter a voz e a criatividade nos próximos 50 anos como Brian.
Antonio Vattimo
Federowski,
ResponderExcluirDiante das suas colocações, creio que seria bastante proveitoso vc também encaminhá-las
diretamente aos integrantes da que vc denomina pseudo-orquestra e ao próprio Brian.
É bem possível que algum dos músicos-maestros
(talvez tanto quanto vc, com formação em escolas
americanas mas que não se equiparam - uma pena! -às brasileiras...)refaça toda a concepção de arranjo, intrumentação e interpretação vocal.
Certamente poderemos nos livrar, futuramente,
dos tais clichês que menciona. E,de quebra,
não ouviremos nada mais com aspecto "manufaturado e industrializado".
Não me leve a mal, Federowski, mas no dia em que
vc tiver algo a ensinar ao Brian Wilson e aos
que o acompanham há anos, o Brasil terá dado
uma passo gigantesco: estaremos diante de
um novo Tom Jobim. Se achar pouco, me perdoe.