Hoje, os anos 80 são lembrados, em geral, como uma nuvenzinha de mullets, padrões de tigre e música new wave. Muita música new wave: se há algo que pode definir essa década, é a fixação por sintetizadores e drum machines ligadas num eco quase ensurdecedor enquanto um cantor se esforça para atingir notas que, na maioria das vezes, estão além de seu alcance. Apesar de ter sido lançado em 1977, o álbum de estréia do Suicide contém todos os elementos do new wave; na realidade, o disco parece premeditar o synthpop do Depeche Mode de cinco anos depois.
Há algo de errado nessa aproximação, entretanto. Talvez sejam os sintetizadores de Martin Rev, que soam um pouco demais como uma guitarra destorcida repetindo incansavelmente os mesmos riffs. Talvez sejam os vocais de Alan Veja, que se assemelham um pouco demais a sussurros e ganidos e que parecem sempre estar um milésimo de segundo fora do tempo. Talvez seja a drum machine, que executa um loop hipnótico demais composto por pouquíssimas notas. O álbum épermeado por esse sentimento de instabilidade, que definitivamente o impossibilita de integrar o panteão dos clássicos da new wave. Talvez canções como “Ghost Rider” sejam niilistas demais até para serem chamadas de ‘música pop’.
Críticos já listaram inúmeros nomes para rotular a dupla. Electro-Punk, No Wave, Art-Punk, Industrial, Synthpunk... A própria banda foi o primeiro grupo a apelidar sua própria música de “punk”, num cartaz de 71. No fundo, todas essas categorizações estão erradas: o som do Suicide é completamente diferente de tudo que o seguiu ou o precedeu. Seu álbum de estréia, consolidação de suas performances entre 71 e 76, hoje consideradas extremamente influentes no desenvolvimento do punk, é um clássico, se não por sua importância histórica, simplesmente porque nunca mais se fez música como essa. Como disse um crítico, “auto-tortura prazerosa. Algo que você não consegue mas deseja ouvir por causa de sua honestidade.” Mas ainda assim, um clássico.
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