Existe algo de mágico no modo de as crianças enxergarem o mundo. Uma mente (na maioria das vezes) sem pré-conceitos, ideologias, ou mesmo conhecimento. À primeira vista, sem graça. Olhando melhor, surpreendente. E não faltam exemplos no cinema e na literatura que mostrem como é ver através de outras lentes. Agora, misture Paris da década de 70, Allende no Chile, um cubano no título e voilà: A culpa é de Fidel!
Como explicar a uma menina de nove anos que sua tia e prima teriam que vir morar na casa dela porque o tio tinha sido morto, que seus pais foram ao Chile e voltaram comunistas, que eles teriam que se mudar de casa para um "quartel-general" de repente cheio de barbudos, que sua rotina mudaria sem mais nem menos, não mais banho antes da comida ou catecismo na escola? O mais curioso é que os pais de Anna tentavam realmente explicar os conturbados acontecimentos de 1970 a ela, quando Salvador Allende subiu ao poder no Chile. Tentavam convencê-la de que era solidariedade participar de um manifesto na rua. De que valia a pena terem virado de repente pobres.
No entanto, é claro, essas idéias não entravam assim facilmente na cabeça dela. Na verdade, no começo do filme eu até detestava Anna, com o jeito meio enjoado dela. Apesar disso, pouco a pouco o espectador entra no mundo - não o que os pais viviam, o que os avós e a ex-empregada criticavam - mas no dela, na realidade circundante ao que a ela se referia, o que ela enxergava. Então começamos a entender a revolta de birra dela, a incompreensão, e as perguntas. Foi com uma delas que eu por fim passei a admirar a personagem. Porque nem eu mesma conseguia respondê-la.
Julie Depardieu, Benjamin Feuillet, Stefano Accorsi et Nina Kervel-Bey
O melhor de tudo é a leveza com que a película traz essa estória, sem deixar os fatos maçantes, nem infantilizar o dia-a-dia de Anna. Não chorei, não ri muito, mas não é necessariamente com emoções extremas que se faz um filme digno de se recomendar. Uma observação antes, porém: vale a pena estudar um pouco o que acontecia na época, só para pegar detalhes implícitos quaisquer. Ah, e é impossível não comentar sobre o irmão de Anna, François, que dava aquele toque delicioso da infância. O trailer está aqui.
Muita coincidência!
ResponderExcluirEu tinha baixado HOJE esse filme para assistir!
Mas bom saber. Vou dar uma estudadinha antes...
^^