domingo, 25 de abril de 2010

Quase Melhor Que A Bomba de Chocolate: As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanzky

Vou começar esse texto com uma confissão, que pode de início soar um bocado parcial: eu sou um grande fã do cinema brasileiro. Principalmente porque seus produtos são muito mais próximos da minha realidade – sou até capaz de dizer que um filme brasileiro médio consegue virar bom só por ser brasileiro, só por falar das coisas da minha terra. Imagine então minha empolgação quando eu ouvi falar sobre "As Melhores Coisas do Mundo" (clique para ver o trailer) : direção da Laís Bodanzky, roteiro baseado na série "Mano", do Gilberto Dimenstein, falando sobre adolescência, e em São Paulo. O aspecto mais relevante desses todos para essa pequena análise é que o filme fala sobre adolescência, algo bem raro no cinema nacional, diga-se de passagem. E sua maior qualidade é também seu maior defeito.

No filme, acompanha-se a história de Mano, um adolescente de classe média que se vê às voltas com a separação dos pais e o conseguinte relacionamento homossexual de seu pai, com a perda da virgindade, o conflito do primeiro amor, picuinhas e calúnias que ocorrem na escola, a música como ferramenta de escape, o irmão mais velho revoltado que desmancha o namoro e pensa em se suicidar... Como se pode ver, tantos são os temas que, em algumas passagens, o filme pensa em abraçar o mundo de um adolescente e não agarra mais nada que o ar, uma vez que eles se superpõem e acabam não chegando a grandes conclusões - como é o caso do fim do namoro e a tentativa de suicídio de Pedro, o irmão de Mano.

Mas o filme tem muitos acertos e algumas surpresas. A começar pelas atuações do elenco mirim - com destaque para a dupla Francisco Miguez (Mano) e Gabriela Rocha (Carol) - e de Paulo Vilhena, na figura do conselheiro travestido de professor de violão - sim, ele conseguiu sair do seu papel característico e dar algum estofo ao personagem. A delicadeza com que certas cenas são tratadas também é algo a se comentar: a cena inicial, por exemplo, na qual Mano e seus amigos vão a um bordel, é de uma rara fineza na produção cinematográfica brasileira. Ou ainda o trabalho de pesquisa extensivo, que deu força a determinadas passagens do filme, como a do “esquenta” antes da festa de quinze anos, ou a da repercussão de fofocas emitidas pela blogueira Dri – algo bem próximo da série “Gossip Girl”.

Uma coisa interessante na película é que ela pode agradar tanto às meninas que lêem a revista Capricho (pela presença de Fiuk, o famigerado filho do Fábio Jr) quanto a seus pais quarentões que se emocionaram vendo os filmes de John Hughes nos anos oitenta. Aliás, muito bacanas as referências ao seminal "Clube dos Cinco", seja na figura da "Bruna Sapata" que lembra a Allison (a gordinha tímida), seja na presença da chapa montada pelos amigos de Mano a fim de combater preconceitos e difamações ocorridas na escola em que estudam. Outra citação respeitável é o uso de "Something" como trilha sonora para as desventuras sentimentais de Mano.

Falando sinceramente, o problema de "As Melhores Coisas do Mundo" não é exatamente seu. É do cinema brasileiro como um todo - e, ressaltando meu lado tiete, me deixa triste. São tão poucos os filmes tupiniquins que conseguem falar de determinados temas - adolescência, futebol, música, história - que muitas vezes eles acabam por se atropelar nessa vontade de falar de tudo que envolve aquele assunto. É o caso, por exemplo, de "Boleiros 2" ou "Durval Discos", que partem de ótimas premissas e se enroscam em conclusões malfeitas. A conclusão a que chego é: trata-se de um bom filme, de fato. Mas se resolvesse se focar em apenas dois ou três temas, em vez de atirar para todos os lados, "As Melhores Coisas do Mundo" poderia tomar o lugar da bomba de chocolate da padaria da esquina, líder indiscutível das últimas 28 semanas.

5 comentários:

  1. To com vc na parte dos muitos assuntos, irrita bastante quando aparece mais um tema maluco e não chegaram a conclusão nenhuma.....
    Outra coisa, o papel do namorado gay do pai é divertido, pensando que ele é masi sensato sobre a educação dos garotos do que o próprio pai.
    Anyway, o filme é divertido.

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  2. Ah, odeio isso. Eu sempre tenho que esperar um bocado de tempo para poder assistir aos filmes. O "Apenas o Fim" eu tive que esperar cerca de um ano! Mas tenho esperanças. Parece que esse vai sair no cinema daqui em breve! =)

    E ah, apesar de só ter aumentado a minha vontade de assistir, gostei do texto.
    Viva o cinema nacional! Pra cima deles Brasil! =)

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  3. Então, qualquer comentário que eu fizer disso será MUITO parcial (muito parcial), eu adoro filmes brasileiros e adoro os seus textos e bla bla bla.

    Enfim, gostei de tudo e só uma coisa, a menininha chata estilo "Gossip Girl" é ridícula e isso não existe em situações normais ;)

    Com carinho

    PS: Já disse que te odeio por você escrever tão bem? x)

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  4. A-do-rei o texto. Tá na lista dos DVDs pra assistir quando voltar!

    Beeijo

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  5. Esse é um filme que quero ver! Realmente me chamou atenção ser um filme nacional que não fala sobre favela/desigualdade social, futebol ou a ditadura. Acho que faltam mais bons filmes nacionais com temáticas genéricas.
    E justamente por haver poucos filmes com essa abordagem cada um que sai tenta falar sobre tudo... Conforme o cinema do Brasil for crescendo esses filmes vão se tornar mais pé-no-chão, sem tentar abraçar o mundo como vc mesmo disse.

    Parabéns pelo texto!

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