quinta-feira, 20 de maio de 2010

Esse Você Precisa Ouvir: Grace, de Jeff Buckley

Antes de tudo, algo importante deve ser dito sobre Jeff Buckley e Grace: você nunca viu ou nunca verá algo tão parecido com ambos. Pode buscar similaridades mil com outros artistas e canções, - algo que até será feito nas próximas linhas - mas nenhum deles uniu tantos atributos em um lugar só. Dono de uma voz potentíssima, com extensão de cinco oitavas, – o normal nos humanos é de apenas duas – usou-a com toda a propriedade, encarnando vários mitos em seu próprio corpo – e utilizando-os para criar sua própria imagem lendária.

Filho de pai ausente e genial - Tim Buckley, trovador maldito dos anos 60 que misturou rock, folk e jazz – Jeff foi criado por uma mãe severa e um padrasto compreensivo, que lhe deu discos do Led Zeppelin e um incentivo para as artes. Começou no cenário underground de Nova York tocando em botecos - como se pode ver no EP Live at Sin-è - e acabou conquistando fãs como Bono Vox e Paul McCartney. Morreu de maneira tragicômica, morrendo afogado no rio Mississipi ao som de "Whole Lotta Love”, em 1997.

Buckley foi Nina Simone ao usar sua voz com tal doçura e sofreguidão que até chega a incomodar - e dela fez um cover, "Lilac Wine". Page & Plant em "Eternal Life", facada guitarrística em corações solitários e tempestuosos. Foi Van Morrison ao apropriar-se de símbolos e metáforas aliados a uma riqueza melódica e a uma voz marcante. Leonard Cohen e Morrissey nas letras com uma melancolia poética, quase niilista. Cobain ao explorar o ruído e a dissonância e ao esvair-se de forma trágica deixando uma obra curta e cheia de simbologias para trás.

Mas também mostrou sua personalidade ao unir tão diversos caracteres, sendo um filho bastardo do rock alternativo dos anos 90, do folk sessentista e do jazz. Seus arranjos soam ao mesmo tempo simples, mas refinados e intrincados. Em Grace, reconhecido por muitos como um dos discos “mais tristes já feitos”, o cantor assume-se um amante bêbedo em "Lilac Wine”, pede desculpas e sente-se miserável em "Last Goodbye”, declara que o amor não tem fim na pungente balada "Lover, You Should've Come Over" e mostra-se sobre o efeito de drogas em "Mojo Pin”. Em meio a toda essa nebulosidade, busca a redenção na desesperança, como na irretocável regravação da "Hallelujah”, de Cohen – que o próprio autor considera a melhor gravação da música.

Grace, de 1994, é seu único disco lançado em vida. Não é possível se dizer que foi o suficiente, pois almas atormentadas como a de Buckley costumam ter muito a oferecer para o público, mas foi o suficiente para que uma obra precoce deixasse fãs saudosos, provocasse lágrimas em corações sensíveis e guardasse o lugar de seu autor entre os gênios de sua época.

8 comentários:

  1. Me lembro da Simone corrigindo esse texto, de olhar curiosa pra ele, e de voce começar a virar o bonitão mais querido (:

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  2. A versão dele de "Hallelujah" também sempre foi a minha preferida. E tipo. O fato do próprio Cohen achar a melhor é muita moral, já que devem ter dois trilhões de versões dessa música.

    Quando eu conheci esse álbum (por você, noa! =]), lembro de ter me deparado com ele nessa listinha (álbuns que todo homem deve ter).
    Se alguém se interessar:

    http://whiplash.net/materias/melhores/085570-brucespringsteen.html

    Abração, fera! =)

    (E Ah! Eu gostei mais dessa versão do seu texto do que a que você postou no anúncio de refrigerante. O final, principalmente, melhorou bastante! ^^)

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  3. Às vezes fico bestificado como conseguem detalhes tão pessoais da vida dele. Será que tudo isso é verdade mesmo?
    Ficou bem descritivo.
    Não gostei da citação de Kurt Cobain; acho que Jeff Buckley não aprendeu com ele. Ambos da década de 90, eles foram contemporâneos.

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  4. Jeff Buckley foi um gênio, e gosto de pensar em Grace não como um dos discos mais tristes, e sim como um dos mais bonitos e verdadeiros. Cheio de detalhes o texto, parabéns! Alguns eu ja sabia, outros não. Também não acho o Cobain influência do Jeff, mas enfim. Jeff foi um músico verdadeiro e único, faz mta falta...

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  5. Só pra dizer, sem qualquer pretensão de ser boazinha, que o seu texto é MUITO mais legal e muito mais interessante que a minha aula de Economia Política :)

    Com carinho

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  6. Uia. Rolou um Remember muito bom agora.

    Nem preciso falar que não li o texto até o final. Esse eu já conhecia de looooonga data. Pra você ter idéia, Eu ainda tenho a versão original pré-release no Anúncio.

    Enfim. A gente já sabe o que dizer deste texto. blablabla, muito bom, whiskas sachê. Pena que figurinha repetida não completa álbum. Isso ficou provado no fracasso de lançamento do single 'You Suffer'.

    Sinceramente? Eu acho excelente você colocar esse texto aqui. Dá um gás. É um texto convencionado como bem acima da média que ajuda a manter a regularidade e elevar a qualidade do blog.

    No mais, verifique a repetição morreu/morrendo no segundo parágrafo. Está de matar. Não lembro dela no texto original. E, como de praxe, meu DDA me impede de enxergar coesão nos seus parágrafos que iniciam com 'Mas'. Cuidado com isso

    Sinceramente e com lantejoulas,
    Zöid =P

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  7. p.s.: Eu sei que eu repeti sinceramente, é que tenho uma queda por palavras grandes.

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  8. Uma lista de implicâncias. Será trabalhoso ler e portanto interessa mais ao autor.

    "Você nunca verá algo tão parecido [COMO] ambos"
    "...nenhum deles uniu tantos atributos no mesmo lugar"
    NENHUM? E mesmo assim, um artista ser similar a uma canção é questão de identidade entre os atributos do artista e da canção, e não da quantidade de atributos de um ou outro.
    "...o normal nos humanos"
    Quantas tartarugas gravam álbuns que seriam assunto desse blog? Esse é um problema menor, mas há que se concordar que distinções e qualificações estão no texto por uma razão, ou por razão nenhuma. Não é difícil saber porque esta esta aí.
    "Morreu...morrendo..."
    =/
    "Buckley foi Nina Simone..."
    Difícil entender o que você quer dizer nessa frase antes de terminar o parágrafo, usar a comparação ao invés da metáfora deixa tudo mais claro.
    "...ao unir tão diversos caracteres" "Caracteres" não é a melhor palavra, talvez "influências"?
    "Não é possível dizer..." sem o "se".
    "...mas foi o suficiente [para deixar] fãs saudosos"
    Afinal você está contrastando lançar apenas Grace e lançar mais álbuns, e não lançar Grace e lançar um álbum melhor que Grace.

    A maior parte desses problemas pode ser eliminada com a criação de um simples sistema de revisão entre os autores do blog.

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