quinta-feira, 27 de maio de 2010

Novo de Allen Funciona


Woody Allen, figura já conhecida de todo cinéfilo, esteve fora. Sim, foi dar um passeio pela Europa. É verdade que lançou ótimos filmes, entre os quais Match Point e Vicky Christina Barcelona talvez sejam os melhores, mas aonde estava aquele Allen clássico, o resmungão, irônico, sarcástico, solitário, morador dos subúrbios nova iorquinos?

Graças aos ingredientes citados, o recém-lançado Tudo Pode Dar Certo é um típico filme do diretor. Allen retorna a seu estilo já característico, que é visível desde seus primeiros longas: os diálogos inteligentes, o timing certo da piada, e as brincadeiras com a incerteza da vida e da morte que são os temperos da obra do diretor. No entanto, esse retorno não se dá de maneira repetitiva, pois há uma reconstrução de situações, personagens e clima.

O espírito genial se revela logo no primeiro grande monólogo de Boris, o protagonista interpretado por Larry David, que mostra todas as premissas do filme em praticamente uma única cena. Desde a primeira palavra pode-se ver que o personagem de David não é nada menos que o próprio Allen, aquele mesmo que foi indicado ao Oscar por Annie Hall, de 1977, mas com uma pitada de humor politicamente incorreto. Está tudo lá, o egocentrismo, o medo da morte, Manhattan, as tiradas e a vontade de mostrar que esse mundo não é nada mais que uma questão de sorte, pois é anárquico e incontrolável.

É esse Boris, ou Allen, um quase prêmio Nobel de Física que teoriza sobre o mundo para os amigos, que se sustenta após o término de seu casamento dando aulas de xadrez – que na verdade não passam de um passatempo e pretexto para insultar os alunos. Contudo, numa noite aparentemente comum, sua vida muda no momento em que é abordado por Melodie, uma garota recém-chegada do interior que não tem onde ficar. Percebendo sua ingenuidade, o mal humorado a acolhe, o que muda sua rotina. Após algum tempo, admirando cada vez mais Boris, Melodie se declara.

É dentro dessa história que circula uma série de personagens secundários que vão, cada um a sua maneira, encontrando seus caminhos na vida e se ajustando com o que tem. Seja a mãe de Melodie que se abre a novos horizontes, ou o pai que decide se livrar da pressão da sociedade, o importante é olhar a vida de uma nova perspectiva. Tudo se encaixa perfeitamente no roteiro, assim como na própria vida.

E talvez seja esse o maior mérito de Allen - e de todos os bons artistas: conseguir retratar seu próprio mundo, mas fazendo de diversas situações uma metáfora para a vida de todos. Woody Allen traz à tona sempre as mesmas questões, mas, e daí? Todos nós, pretensos gênios, solitários, moradores das grandes cidades, queremos nos divertir com a irracionalidade de nossas vidas, assim como ele. No fim das contas, o remédio que Boris nos oferece para viver nesse mundo caótico é o de conviver com a sorte, se contentar com o que der certo, com o que funcionar para nós. Whatever Works. Mas sem nunca, claro, deixar de reclamar.

6 comentários:

  1. Senso comum.
    Você consegue bem mais que isso.

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  2. Divertido, bom, não genial, mas bom.

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  3. É. Devo concordar com Bina e Boina.

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  4. Então, devo reconhecer que esse não foi o seu melhor texto, mas você ainda é "o" cara! Bem por isso, que eu espero ansiosamente por suas próximas aparições ;)

    Enfim, minhas impressões particulares sobre o texto e sobre o filme, eu te faço em off ;)

    Com carinho

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  5. "Todos nós, pretensos gênios..."

    TODOS nós?!

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