Woody Allen, figura já conhecida de todo cinéfilo, esteve fora. Sim, foi dar um passeio pela Europa. É verdade que lançou ótimos filmes, entre os quais Match Point e Vicky Christina Barcelona talvez sejam os melhores, mas aonde estava aquele Allen clássico, o resmungão, irônico, sarcástico, solitário, morador dos subúrbios nova iorquinos?
Graças aos ingredientes citados, o recém-lançado Tudo Pode Dar Certo é um típico filme do diretor. Allen retorna a seu estilo já característico, que é visível desde seus primeiros longas: os diálogos inteligentes, o timing certo da piada, e as brincadeiras com a incerteza da vida e da morte que são os temperos da obra do diretor. No entanto, esse retorno não se dá de maneira repetitiva, pois há uma reconstrução de situações, personagens e clima.
O espírito genial se revela logo no primeiro grande monólogo de Boris, o protagonista interpretado por Larry David, que mostra todas as premissas do filme em praticamente uma única cena. Desde a primeira palavra pode-se ver que o personagem de David não é nada menos que o próprio Allen, aquele mesmo que foi indicado ao Oscar por Annie Hall, de 1977, mas com uma pitada de humor politicamente incorreto. Está tudo lá, o egocentrismo, o medo da morte, Manhattan, as tiradas e a vontade de mostrar que esse mundo não é nada mais que uma questão de sorte, pois é anárquico e incontrolável.
É esse Boris, ou Allen, um quase prêmio Nobel de Física que teoriza sobre o mundo para os amigos, que se sustenta após o término de seu casamento dando aulas de xadrez – que na verdade não passam de um passatempo e pretexto para insultar os alunos. Contudo, numa noite aparentemente comum, sua vida muda no momento em que é abordado por Melodie, uma garota recém-chegada do interior que não tem onde ficar. Percebendo sua ingenuidade, o mal humorado a acolhe, o que muda sua rotina. Após algum tempo, admirando cada vez mais Boris, Melodie se declara.
É dentro dessa história que circula uma série de personagens secundários que vão, cada um a sua maneira, encontrando seus caminhos na vida e se ajustando com o que tem. Seja a mãe de Melodie que se abre a novos horizontes, ou o pai que decide se livrar da pressão da sociedade, o importante é olhar a vida de uma nova perspectiva. Tudo se encaixa perfeitamente no roteiro, assim como na própria vida.
E talvez seja esse o maior mérito de Allen - e de todos os bons artistas: conseguir retratar seu próprio mundo, mas fazendo de diversas situações uma metáfora para a vida de todos. Woody Allen traz à tona sempre as mesmas questões, mas, e daí? Todos nós, pretensos gênios, solitários, moradores das grandes cidades, queremos nos divertir com a irracionalidade de nossas vidas, assim como ele. No fim das contas, o remédio que Boris nos oferece para viver nesse mundo caótico é o de conviver com a sorte, se contentar com o que der certo, com o que funcionar para nós. Whatever Works. Mas sem nunca, claro, deixar de reclamar.
Senso comum.
ResponderExcluirVocê consegue bem mais que isso.
Divertido, bom, não genial, mas bom.
ResponderExcluirÉ. Devo concordar com Bina e Boina.
ResponderExcluirEntão, devo reconhecer que esse não foi o seu melhor texto, mas você ainda é "o" cara! Bem por isso, que eu espero ansiosamente por suas próximas aparições ;)
ResponderExcluirEnfim, minhas impressões particulares sobre o texto e sobre o filme, eu te faço em off ;)
Com carinho
Concordo (com o tuca) e gostei
ResponderExcluir"Todos nós, pretensos gênios..."
ResponderExcluirTODOS nós?!