terça-feira, 4 de maio de 2010

Um Tratado Sobre Amor e Sexo Nos Dias de Hoje: Tom Bloch 2, da Tom Bloch

Esta resenha parte de dois pressupostos. Primeiro: que você não ouviu nem sequer ouviu falar deste disco. Segundo: que isso é um pecado - e, embora não seja culpa sua, ele é muito menor que os cometidos pelas personagens das canções. Tom Bloch 2, da Tom Bloch, é, sem dúvida, um dos discos mais bem concebidos no aspecto poético já feitos no Brasil sobre o amor, o sexo, seus vícios e conseqüências morais e psicológicas.

Quem sabe o ditado possa explicar:"filho de peixe, peixinho é":as letras e os vocais aqui ficam a cargo de Pedro Veríssimo, filho de Luís Fernando e neto de Erico - a banda ainda conta com Iuri Freiberger na bateria e programações. No primeiro disco auto-intitulado, a dupla já contava com grandes canções, como "Nessa Casa" e "Pela Ciência". Em "O Amor (Zero Sobrevivente)" (clique para ver o clipe), já se anunciava o caminho por onde as nove faixas desse Tom Bloch 2 andariam: um tratado, ainda que informal, dos relacionamentos em tempos modernos.

O mundo desse disco é um mundo marcado por mentiras e ilusões, submissões e vergonhas. Se na cara estampa-se o fingimento diante de uma situação oportuna ("A Invenção do Amor"), na coroa se mostra o ridículo de quem aceita se submeter a uma mentira por acreditar que ela é melhor que a solidão ("Por Favor Mente"). No meio do vendaval, aparece uma frágil chance de redenção, talvez a única, em "Imitação da Vida": se a casa de paredes falsas cair, de acordo com a letra, "fica exposto o homem/e o coração bate outra vez".

"Situação de Dança" é a exibição do pânico diante da desengonçada ("Se dois pra lá/eu sempre do lado errado") ocasião de baile para conquistar o outro - num ritual de conquista um tanto quanto acéfalo e superficial ("Mesmo versado no controle da mente/eu posso tentar mesmo que beire o indecente"). "Entre Nós Dois" é quase uma seqüência da anterior: dá pra achar uma crítica à vulgarização do sexo ("Você perto de mim, mesmo longe de mim") e à promiscuidade ("Entre nós dois e mais dois é uma festa") - mas é fácil perceber que algo errado vai acontecer ("Entre nós dois tinha que ser assim").

A banda insiste novamente na questão de mostrar dois pontos de vista em "A Dúvida" e "Vendetta" - a primeira trata de como encarar a suspeita de estar sendo traído ("Ou eu rasgo a tua foto e eu sigo ou eu não rasgo e cedo aos gritos de 'pula!'."). A segunda é, ainda que por vias tortas, uma explicação de porque se consumou o adultério. E se ainda resta algo a ser dito, que seja agora ou que este que vos fala cale-se para sempre: "O Refém" é uma das baladas mais bonitas do rock brasileiro - nota pessoal: já chorei muito ouvindo essa música - , na qual Pedro Veríssimo compara o amor a um seqüestro - onde muitas vezes o criminoso também é vítima ("Você fugiu, eu fiquei preso").

Já que estamos falando de crimes, crime mesmo foi Tom Bloch 2 não ter sido bem divulgado. Mas não querendo incorrer no clichê "pobrezinho do artista independente que não consegue espaço na mídia", cabe a mim apenas dizer: procure de algum jeito este disco. E ouça no último volume - a menos que você esteja pensando seriamente em cortar seus pulsos.

7 comentários:

  1. ~Corrigindo:
    Ah, perdoe minha falta de tato em não ler a partícula "poético" no priemiro parágrafo.


    Hora de Comentar. Quase tão importante quanto a Hora da Ginástica.

    Infelizmente, dessa vez não vai ser tão engraçado.

    Sua resenha foi parcial e ainda assim, descritiva, uma coisa que não combina com seu caráter crítico.

    Acho mesmo que o que acontece é que você brilha muito pra falar sobre álbuns do estilo "DO CARALHO", mas talvez o trauma do excesso de emoção apague um pouco o brilho quando você fala de álbuns do estilo "BOM".

    Desnecessário dar uma definição incompleta de "Resenha" no começo do texto. Metalinguagem aplicada à prática é matéria de Cálculo III, e você não faz Cálculo.

    Cuidado com a intersecção dos círculos íntimos. Você acabou escapando do segundo para o terceiro estágio em dois pontos gritantes: primeiro, seus leitores não precisam saber que você já chorou um monte de vezes com a tal música. Segundo, a última frase do texto, não precisa mostrar pra todo mundo que relacionamentos modernos quando não são tratados displicentemente ou de forma a invadir sua cabeça violentamente (alto volume) são motivos para auto-flagelação. Podia ter ido dormir sem essa. É simplesmente artificial, do jeito que eu te conheço. E se eu sei que é artificial por isso, nada vai impedir seus leitores de perceberem que é artificial sem essa informação. (total de repetições da palavra artificial: 4, com essa)

    Além disso, quando a música "Situação de Dança" tenta transformar a dança (versada no controle da mente) em uma aproximação sexual (tentar algo que beira o indecente), eu não acho que seja superficial. Mas isso é só uma opinião, não uma crítica. Eu digo, o toque mútuo em uma dança é marcante, profundo e, sim, sim, claro, extremamente sensual. Bah. Perdoe-me, no caso, se eu me enganei na interpretação dos dois versos que você forneceu.

    Eu realmente gostaria de pôr em jogo o uso da palavra pecado no começo do texto. Mas isso eu vou deixar para os outros leitores. Se tudo ocorrer segundo o que eu planejo, ninguém vai tocar no assunto.

    Vamos deixar a lista de atos falhos psicológicos do texto a esmo, esperando que outro pobre coitado leitor pesque a idéia.

    É, falei. Espero gostar mais do outro, ou pelo menos ser mais engraçado da outra vez.

    Sinceramente, Zöid.

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  2. Eu tenho preguiça de comentar longamente como o zóide, então:
    -texto sem brilho
    -acho justo você falar de albuns brasileiros desconhecidos, uma marca a ser rpeservada
    -Achei totalmente dispensavel a parte que lhe toca, como o zoide comentou
    -No ultimo paragrafo vc recorreu ao cliche de pobrezinho do artista blablabla pelo simples fato de não desmentir isso.
    -O texto ta muito parcial isso irrita no que se refere a escolha de palavras como "crime" e "pecado"

    Enfim, você pode fazer melhor que isso, me pareceu um texto sem vontade, só pra enxer espaço.

    Abraço

    BTW:só elogiar tava ficando chato ja né ;)

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  3. Tá, eu sei que a gente tinha combinado não comentar os comentários dos outros, mas enfim.

    Já te disse que é meio contra a minha religião descrever músicas. Concordo com o Miles quando ele disse: "deixe a música falar por si só". Concordo também, então, com o que o Zoid disse a respeito de a resenha ser "descritiva" e isso ser uma coisa ruim. Também concordo que a parte do "já chorei muito" foi um pouco pessoal demais. E sobre o último parágrafo, já tinha te dito que acho que se você deixasse o texto inteiro mais humorístico ele não seria tão... ahn... dissonante do resto.

    Mas enfim, sobre o que os dois falaram sobre "parcialidade": isso é uma resenha. AKA, a sua opinião sobre um disco. Não faz muito sentido ter uma resenha imparcial, já que aí seria basicamente uma descrição. Ou um texto da FUVEST. E ninguém quer nenhum dos dois. Ainda mais por ser um texto num blog, um ambiente muito mais intimista do que um jornal ou uma revista.

    Não acho que seja dos melhores textos, mas também já li piores. Enfim, é isso que dá postar um texto toda semana. Paciência, certo?

    Abraço

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Tá. Vamos lá. Você sabe como eu sou parcial quando é você que está escrevendo, sabe o quanto eu sou tentada a puxar sardinha para o seu lado e tudo mais.
    Mas o que diabos você estava fazendo/pensando quando escreveu isso ai?

    Eu SEMPRE elogio os seus finais, sempre. Entretanto, esse foi um dos piores finais que você já fez. Você não me convenceu (não mesmo) que era um crime eu nunca ter escutado esse disco.
    Momento advogada chata: crimes são condutas tipificadas, ou seja, necessitam de nexo de causalidade. Eu, em momento nenhum, consegui entender o nexo de causa e efeito da sua resenha. Não entendi o motivo da escolha do disco (salvo pelo fato de que você sempre chora ao ouvir tal música). Não entendi a mensagem que você queria passar (salvo a de não ouça se você estiver pensando em se matar). Sinceramente, não entendi nada.

    Mas, como é peculiar da minha pessoa, tenho que te defender em virtude das enormes críticas (inclusive a minha) que foram feitas ao seu texto.
    Você é um dos que mais produz para esse blog e gostaria de explicitar que a sua dedicação para que a coisa toda funcione é infinitamente superior a de alguns outros membros.
    Concordo com o Fed, é normal que as coisas não fiquem perfeitas sempre. Você é um dos melhores (na minha opinião, o melhor) desse blog, Noa.

    Espero pelo próximo texto (sim, estou colocando pressão), para que eu possa voltar a rasgar seda para o seu estilo, para o seu final e mimimi :)

    Zöid: eu sou sua fã e estou morrendo de saudades

    Fed: em virtude dessa coisa que o Noa publicou e, também, do seu último texto o posto de favorito agora é seu ;)


    Com carinho

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  6. Eu sou completamente a favor de um tom mais parcial (na medida certa!), afinal, como o Fed disse, é um texto de um blog.

    Além disso, na minha opinião, às vezes a parcialidade caminha de mãos dadas com a veracidade/autenticidade. É como a música. O som pode até não ficar tecnicamente bom, mas uma interpretação alá "Otis Redding" é muito convincente.

    De qualquer forma, você não me convenceu neste. Mas a culpa não é sua. Quer dizer, a culpa é sua só em parte: na escolha do tema.
    Eu não gosto de Tom Bloch!!! Apesar do Veríssimo neto, filho e tudo mais.

    Um dia eu estava escutando Bon Jovi e lembro de você ter me zuado pra burro. Agora é a minha vez: Franjinha pra você, fera. =)

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  7. Galera, eu gostaria de corrigir uma coisinha que está acontecendo com meu comentário.

    Vejam: quando eu digo 'conseguiu ser parcial e, ainda assim, descritivo', eu não estou usando a palavra "conseguiu" de uma maneira depreciativa e irônica. Eu estou elogiando o fato de ter sido parcial, mesmo porque é um blog. Mas segundo os livros que eu já li por aí, resenhas podem ser descritivas ou críticas, e eu acho MUUUUUITO mais a cara do Nöa uma resenha crítica. Perdoem minha falta de domínio da língua, acontece. Se fosse uma análise dimensional eu brilharia mais.

    p.s.: Gi, vamos nos ver assim que possível ;]

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