segunda-feira, 24 de maio de 2010

Namaste, Lost

Antes de tudo, é bom deixar claro, o texto a seguir é livre de spoilers.

Eu pensei um bom tempo em como fazer um texto que fosse tão atraente para os fãs de longa data quanto para os que nunca viram um só episódio. Talvez o melhor seja começar do começo: todo grupo de amigos tem um membro que passa mais tempo discutindo viagens no tempo e a moralidade de Jacob do que fazendo, bem, qualquer coisa que seja importante. Entre os meus amigos, eu me orgulho de ser esse membro. E por mais que eu tenha tentado instilar essa adoração no restante do grupo, eu sempre acabava recebendo respostas, digamos, pouco entusiásticas. E isso não é surpresa. Por mais detalhadamente que eu narrasse os episódios, seria impossível transmitir o que mais importa no show: o fator humano. Despido disso, Lost não é nada mais do que um apanhado de tramas nerds, com mais reviravoltas do que a filmografia completa de M. Night Shyamalan. O que, convenhamos, também tem seu charme.

Pois bem, agora são uma e meia da manhã, eu acabei de assistir ao último episódio da série; novamente, não tenho a menor idéia se escreverei que esse foi o melhor episódio de todos ou as duas horas e meia que estragaram o programa; e, pela reação na internet dos outros fãs, parece que não sou o único. O que é algo meio arriscado, considerando que eu já pautei um texto nessa mesma premissa. Ainda assim, talvez isso seja nossa própria culpa. Não consigo deixar de pensar que, embora esperasse ser surpreendido, esperava que isso ocorresse nos meus próprios moldes: que os mistérios que eu tinha em minha cabeça fossem resolvidos de um jeito que eu não esperava. Ao invés disso, Damon Lindelof e Carlton Cuse (escritores do finale) tomaram cenas que eu tomava como fato, transformaram-nas em mistérios e, então, apontaram-nas na direção de uma solução. O que pode não ser um método exatamente tradicional de se contar uma história, mas se encaixa perfeitamente em Lost.

Não me leve a mal, eu ainda estou embasbacado com os dez minutos finais. Ainda estou com vontade de perseguir os produtores do show e assassiná-los de uma maneira que seja longa e dolorosa. Mas – de novo sem revelar detalhes da história – há certos momentos no episódio que nos obrigam a olhar para trás e relembrar momentos das temporadas passadas. E, olhando assim em perspectiva, por mais mirabolante que seja a trama que fecha o seriado, seria difícil terminar Lost com mais humanidade. Os personagens continuam apaixonavelmente acreditáveis, os embates psicológicos continuam sem solução, o mundo continua impossível de ser dividido entre bem e mal. E os detalhes da trama continuam tão ininteligíveis quanto cada momento dos seis anos que se passaram.

Talvez esse não tenha sido o final por que tanto esperamos. Não há dúvida de que por pelo menos mais algumas semanas, a internet continuará lotada de fãs querendo a cabeça de J. J. Abrams. Entretanto, a verdade é que, se Lost acabasse da maneira como todos imaginávamos que terminaria, estaríamos ainda mais desapontados do que estamos agora. Quer você goste das respostas que foram dadas ou não, é impossível negar que, após seis temporadas, os escritores continuam resistindo à tentação de fornecer respostas fáceis aos mistérios que, por mais que afirmemos que queremos ver desvendados, perderiam o sentido assim que não pudessem ser discutidos por uma multidão de fãs nerds. E, pois bem, após uma finalização nada conclusiva, continuaremos importunando nossas rodas de amigos com teorias sobre viagens no tempo e a moralidade de Jacob. Namaste, Lost. See you in another life brotha.

7 comentários:

  1. Segue um comentario malvado, que eu só tenho culhões de fazer porque ja nos conhecemos razoavelmente:
    Eu nunca tive vontade de ver LOST, e o texto não me convenceu.

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  2. Gostei do texto. Sou louca por LOST, mas ainda não vi o "finale". A parte humana de LOST é forte, mas confesso que para mim o "apanhado de tramas nerds" é mais interessante. Fiquei um tanto frustrada quando a série pendeu para o lado do sobrenatural e deixou meio de lado a viagem no tempo, o magnetismo da ilha, etc, pois sou fã de ficção científica e este lado de LOST me agradava bastante. Ainda assim, não achei de todo ruim o embate bem X mal, pois também sou fã de mitologia (para entender melhor: meu filme preferido é Star Wars acho que isso me define bem, hehehe). Enfim, LOST agrada milhões de pessoas por motivos diferentes, e sempre que um deles se sobrepuser aos outros, um grupo de fãs ficará desapontado. Vamos ver se o "finale" não me coloca neste grupo. Volto a postar quando assistir. E, assim como vc, me orgulho se der quem levanta as discussões sobre a moral do Jacob e as viagens no tempo!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Mandou bem, Federowski. Acabei de assisti-lo e sinto que não poderia ter sido diferente. Não adianta esperarmos respostas a mistérios mirabulantes. O tema de LOST não é a ficção científica que decorre dessas perguntas, mas sim os fatores humanos envolvidos na trama como você bem disse.

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  5. Então, eu nem assisti o final de Lost.
    Mas, COM CERTEZA, esse texto passou longe de ser o seu melhor ou algo parecido. Receio dizer, que dessa vez, terei que concordar com o Bina.

    PS: Rasgar seda pra você é tão mais legal, Fed.

    Com carinho

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  6. Bah, eu imagino que deve ter sido complicado escrever um texto sobre os prós e contras do desfecho sem spoilers, então parabéns.

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  7. Foi complicado escrever um texto sobre os prós e contras do fim da série sem spoilers? Não, não foi, porque o texto publicado não é um texto sobre os prós e contras do fim da série. O texto publicado é um texto sobre como o fim da série foi diferente daquele que o autor esperava mas que ainda assim deixou ele um pouco desapontado. No fim do texto o autor ainda diz que se não fosse assim ficaria mais desapontado. Uma pena que dava para escrever isso em duas frases!

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