sábado, 22 de maio de 2010

O nonsense britânico de Black Books: nem velho nem novo


Certo professor disse um dia que as pessoas tendem a associar tudo que é velho com qualidades negativas, e tudo o que é novo com qualidades positivas. Antiquado, ultrapassado, passado. Moderno, recente, atual... Chamamos algo de novo porque pressupomos que está substituindo outro algo, que por sua vez deixou de cumprir sua função por ser simplesmente... Velho. Mas esse julgamento de valores muitas vezes se inverte. Quem nunca ouviu alguém dizer que “nos velhos tempos tudo era melhor”? Puro saudosismo dos nossos pais e avós? Provavelmente diremos o mesmo aos nossos filhos.

Quanto à arte em geral, sinto que existe essa admiração pelo antigo, a tradição – um compositor falecido, um pintor ignorado pelos seus contemporâneos, um filme clássico – e uma grande desconfiança em relação a tudo que é novo. Isso, é claro, devido a essa fase que o mundo vivencia: é muito fácil produzir algo hoje, muito mais do que era no tempo dos nossos pais (uma das razões pelas quais o professor citado dizia ter inveja da geração nascida nos anos 90) e os bons achados acabam se perdendo em meio à confusão. E a noção do tempo também mudou: hoje, o que aconteceu há três anos já é considerado passado.


Tendo dito isso, apresento-lhes Black Books, um sitcom inglês (ou simplesmente britcom) de 2000, entre o velho e o novo. Mas que poderia muito bem ser de 1970. Ou de 2012. Porque afinal, humor não tem época para se manifestar, e Dylan Moran, que é um dos escritores da série e também interpreta um dos personagens, sabe bem disso.


O programa, exibido pelo Channel 4, gira em torno de 3 personagens principais: Bernard Black (Dylan Moran), dono de uma pequena livraria em Londres homônima à série; Fran Katzenjammer (Tamsin Greig), aparentemente a única pessoa a conseguir manter uma relação de amizade duradoura com Bernand; e Manny Bianco (Bill Bailey), figura um tanto quanto excêntrica que passa a trabalhar e morar com Bernard após largar seu emprego como contador no primeiro episódio.


A livraria do título é pano de fundo para as bizarrices de cada um deles. As paixões de Bernard são fumar, beber e ler livros, ignorando regras de conduta social e mantendo-se isolado do mundo exterior. Sua falta de higiene é mostrada logo no começo, no terceiro episódio, quando Manny resolve contratar alguém para limpar a loja. No entanto, o aspecto mais interessante da sua personalidade excêntrica talvez seja a completa falta de traquejo ao lidar com seus clientes. Antipático e ranzinza, sua última preocupação é cativar as pessoas para que comprem livros. (uma das minhas cenas favoritas: “Are they real leather?” “They’re real Dickens”)


Fran é uma solteira neurótica, com uma vida amorosa desastrosa, dona da loja vizinha à livraria (Nifty Gifty). Ela vê em Manny uma oportunidade para que a livraria seja mais bem cuidada, e é ela quem convence Bernard a contratá-lo. Manny, com suas camisas coloridas e seu zelo pela cabeleira e barba, se contrapõe a Bernard, seja pela simpatia que desperta nas pessoas ou pela sua generosidade.


A série tem 3 temporadas, de 6 episódios cada. Ou seja, dá pra assistir em uma semana tranquilamente. E o humor surreal e o sarcasmo típicos do humor britânico não deixam de funcionar, por mais que se repitam. Mas, às vezes, só a expressão facial dos atores é suficiente para umas boas risadas. Sem contar as participações de convidados como Keith Allen, Simon Pegg (que contracenou com Moran também em Run Fatboy Run) e David Walliams.


No entanto, não espere grandes enredos de todos os episódios. Embora todos tragam cenas hilárias, alguns não correspondem às expectativas. O episódio final, apesar de engraçado, não traz uma conclusão – apesar de não acreditar que tenha sido essa a intenção, vale ressaltar essa observação para aqueles que esperam por um “final”. De qualquer forma, é uma boa fonte de risadas e de citações absurdas.

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