
Antes que você pergunte: mas quem raios são esses caras? Uma breve apresentação básica: a Apanhador Só é composta de Alexandre Kumpinksi (voz e guitarra), Felipe Zancanaro (guitarra), Fernão Agra (baixo) e Martin Estevez (bateria), nasceu em Porto Alegre no meio da década e após gravar dois EPs chega ao primeiro álbum (disponibilizado para download no site da banda). O nome da banda é uma colagem: remete tanto ao livro O Apanhador no Campo de Centeio quanto à “Marinheiro Só”, um clássico de Caetano Veloso.
As últimas linhas pareceriam sem propósito maior – apenas uma curiosidade banal - se não fosse a informação que ali está implícita: o mote da Apanhador Só é literalmente misturar as guitarras do rock (representado indiretamente pelo livro de Salinger) com os ritmos e as harmonias da música brasileira. Trata-se de uma idéia que em si não é inovadora - desde os tropicalistas, passando pelos Picassos Falsos até desembocar no manguebeat de Chico Science - mas a cada vez que é feita gera novos resultados. É uma mistura que tem sido utilizada com bastante freqüência na última década. Boa parcela de "culpa" disso pertence aos Los Hermanos e seu primeiro e subestimado disco, onde Camelo e Amarante botaram os descolados pra dançar com o frevo de "Pierrot" e o ska-forró de "Sem Ter Você", só pra ficar em dois exemplos. Mas este Apanhador Só exibe um interessante frescor de bom humor e uma poesia de quem vê o mundo com olhos de iniciante, empolgando e alegrando quem se propor a escutá-lo.
Fica difícil resistir ao charme de "Origame's Over" e o seu cultivo à beleza das pequenas coisas ("Que é pra/cantar meninas/pintar esquinas/dobrar ori/game's over") ou ao balançado brejeiro de "Maria Augusta" e sua proposta de arrasta-pé. "Vila do Meio Dia" traz a esperança e o otimismo no meio a uma série de coisas ruins ("O meu quintal parou de dar maracujá, uva e limão/Mas com um beijo da Maria tudo vai se ajeitar") - com direito a um belo coro e um empolgante "lá-iá-lá-iá".
E até mesmo o que é triste no mundo se torna cativante pelas mãos da banda: seja a discussão de casal em "Pouco Importa", seja a tentativa de reconquista - ainda que improvável - e os pequenos detalhes ("Perfume atrás da orelha/Um vestido bem vestido/Um sorriso no rosto/Um punhado de amigos") de algo que já se partiu em

Não se surpreenda, entretanto, se o disco lhe parecer indigesto de partida: a mudança contínua de andamentos e o barulho das guitarras à moda do Yo La Tengo podem assustar os incautos. Mas a cada escutada, novos elementos se descobrem e tornam o disco mais prazeroso para o ouvinte - lá pela quarta ou quinta vez você conseguirá ouvir nas músicas instrumentos lúdicos como "sacolas plásticas", "interruptores de luz", "balão de aniversário" e "roda de bicicleta". São essas pequenas sonoridades que acentuam ainda mais a importância do cotidiano como ponto de partida para um novo olhar sobre a realidade - algo que aproxima a banda dos poemas de Manuel Bandeira e Mário Quintana.
Se tudo isso que foi dito ainda não foi suficiente pra te convencer a dar uma chance de ser apanhado por esse disco, só resta dizer uma coisa: para o frio tenebroso e triste que se anuncia para os próximos meses, parece não haver lançamento recente melhor para te deixar com um sorriso bobo no rosto que Apanhador Só.
meuuuuu, vcs são muito legais, sério!!Adoro o blog.
ResponderExcluirbeijos e sempre em frente, não parem. Tds vcs têm muito talento.
Ahhhhh, você voltou :)
ResponderExcluirGostei do contraste do §1º, gostei do "mas quem raios são esses caras?" e gostei da comparação com Manuel Bandeira e Mário Quintana.
E, AS USUAL, adorei o seu final. Você sempre consegue os meus sorrisos bobos ;)
Com carinho
sou fã de apanhador a muitíssimo tempo
ResponderExcluirbom ler um texto como o seu falando tão bem do álbum deles
P.S. boas comparações ;)
Tá aí! Concordo com a Gi. Um texto que faz sorrir sobre um álbum que faz sorrir. :)
ResponderExcluirBom.Nível dos primeiros.Preguiça de dizer mais...
ResponderExcluirNoa, parabéns :)
ResponderExcluiressa resenha traz uma sensibilidade incrivel - colocar trechos de musicas e citar a origem da banda são taticas muito boas para que o leitor se sinta minimamente mais proximo da banda, ainda que ela seja desconhecida para ele.
vou reservar um espaço na HD do meu pc para Apanhador Só - nada melhor do que boa música para esquentar o peito em meio à friaca paulistana ;)