A exposição se propõe mostrar a economia formal decorrente do cálculo que um trabalho artesanal tal como a gravura exige. Do que se abre mão em função dessa tentativa é a coerência temporal. Da década de 20 à década de 90, as obras variam dos primeiros rabiscos de Lasar Segall aos últimos de Iberê Camargo. O que fica evidente, mais do que a economia formal, é a defasagem da estética em relação ao tempo. Frente a um início de século XX na Europa, quando se sucederam muitos e diversos movimentos estético-ideológicos, o Modernismo brasileiro é fadado a uma antropofagia estética pela falta de uma crença ideológica. Longe de nós o horror da guerra e a falência do projeto burguês, ao contrário, nossos artistas eram os próprios filhos da burguesia a que a estética que cooptaram antes se opunha. Não que a postura modernista seja inválida, apenas que esvaziou todo o conteúdo crítico das fontes de que beberam.
É claro desde o momento em que se entra no museu Lasar Segall, uma espécie de apêndice do colégio, que se trata de uma realização de baixo orçamento. Ainda que a parceria com o mais abastado instituto Iberê Camargo tenha viabilizado a exposição, trata-se de uma mostra quase completamente de obras menores e pouco significativas. Salvo Oswaldo Goeldi, cuja sagração foi exatamente através das Xilogravuras, o que se apresenta de Lasar Segall e Iberê Camargo são literalmente rabiscos. Não é impossível de se perceber, porém, o estilo próprio de cada artista, que se reflete de alguma forma nessas obras menores. Em Oswaldo Goeldi a ressonância dos traços emocionados de Van Gogh, divertidissimamente ilustrando de Raull Bopp a Dostoievsky; e em Lasar Segall a simplificação dos traços e a geometrização das formas, melhor representados pelas diversas matrizes que se apresentam.
Quem parece particularmente perdido entre as obras é Iberê Camargo, possivelmente por causa da incoerência de sua obra com a proposta da exposição. É certo que os três artistas são mais ou menos contemporâneos, mas a produção de Iberê Camargo tem início na década de 40, momento em que as produções de Oswaldo Goeldi e Lasar Segall já estavam no fim. Naturalmente essa sutileza temporal faz toda diferença na estética. Enquanto Lasar Segall e Oswaldo Goeldi são muito mais influenciados pelos movimentos do início do século XX – o expressionismo, o cubismo e o abstracionismo –, Iberê transita entre um surrealismo póstumo e o expressionismo abstrato. Obviamente a economia formal é muito menos importante para Iberê do que para Goeldi e Segall.
Não se trata de uma exposição ruim, muito pelo contrário. Esperar conhecer as obras desses três artistas através dela, contudo, é um equivoco. Mais do que isso, para aqueles que estão familiarizados com o modernismo brasileiro, a exposição viabiliza uma série de reflexões interessantes, ainda que a proposta central não seja muito bem efetivada. Apesar de as gravuras serem em sua maioria obras menores, é através delas que melhor se pode conhecer a estética de um artista. E apesar de a infra-estrutura ser um pouco precária, o empenho da curadoria faz com que tudo pareça melhor. A exposição “Cálculo da Expressão” se encontra no Museu Lasar Segall, Rua Berta 111, e permanece de 24 de Abril a 10 de Julho de 2010.
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